A Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-ameríndia (AFA) acionou o Ministério Público da Bahia (MP-BA) em busca de ajuda para cobrar a efetiva punição da pessoa responsável pelo ataque que destruiu os espaços sagrados da Comunidade Tradicional de Terreiro Nzo Reino Nzaazi, também conhecida como Casa de Xangô.
O terreiro de Vitória da Conquista foi invadido na noite da virada de ano por um homem de 25 anos, que foi ouvido pela Polícia Civil, confessou a autoria e responde o inquérito em liberdade.
Ele deixou um documento cair na propriedade invadida, o que facilitou a sua identificação, pois mora na mesma rua do terreiro e é filho de um pastor evangélico, de acordo com os vizinhos. No momento da invasão não havia ninguém em casa. A porta do local foi arrombada.
No ofício encaminhado ao Ministério Público, a AFA pede também que sejam reparados os termos utilizados no Boletim de Ocorrência (B.O), registrado pela equipe que estava de plantão na delegacia de Polícia Civil da cidade.
“Queremos que seja corrigida a natureza do registro”, afirmou o presidente da AFA, Leonel Monteiro, acrescentando que “dano material como está no B.O não caracteriza o que de fato aconteceu. Porque ele (o rapaz que confessou o ataque) disse que ‘isso (o terreiro) é coisa do demônio’, para justificar seu ato”.
De acordo com Monteiro, o que houve “foi mais um fato de intolerância religiosa, que é uma das faces do racismo estrutural que ainda está muito vivo na nossa sociedade”. Ele lamentou que alguns agentes públicos, que fazem os registros em delegacias “não enxerguem a verdadeira natureza dos atos, o que resulta em punição fora do contexto real da motivação dos crimes”.
Ao citar outros fatos de intolerância que a AFA acompanha, o presidente da associação pontuou que a situação de Vitória da Conquista não é isolada, sendo a primeira para a estatística de 2023.
Os casos que têm o acompanhamento da organização na busca pelo reconhecimento dos crimes, vêm registrando números crescentes. Pois em 2020 foram oito ataques, em 2021 foram 12 situações e no ano passado 18 fatos de intolerância e preconceito.
Apoio e medo
Segundo o líder do Terreiro Casa de Xangô, Pai Lucas Sousa, foi muito chocante para a família quando voltou para casa e encontrou tudo revirado e quebrado no espaço do terreiro.
“Na nossa casa (onde a família mora), ele não mexeu em nada, o que deixa claro que a intenção dele foi destruir a parte religiosa”, salientou, destacando que no momento da abordagem por parte dos policiais militares e na delegacia o acusado “repetiu diversas vezes que não existe santo e que não são sagradas as coisas do candomblé”, contou.
Ainda conforme o pai de santo, a família está apavorada, com medo de que o homem volte e possa agredir alguém. “Minha mãe não dorme e nem consegue comer. Já estamos providenciando acompanhamento psicológico para todos”, enfatizou, pontuando que o grupo tem recebido diversos apoios, inclusive da OAB de Conquista, através da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
A reportagem procurou o Ministério Público para saber do andamento relativo aos pedidos da AFA, no entanto, por estar em período de plantão judiciário (até às 15h), não obteve retorno até o fechamento da matéria. | A Tarde.