CONQUISTA | Após ialorixá ser chamada de ‘feiticeira’, MP quer que pastor e fiéis de igreja se abstenham de intolerância

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Por Willyam Reis – O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) emitiu uma recomendação a um pastor e integrantes de uma igreja evangélica da cidade de Vitória da Conquista, sudoeste baiano, se abstenham de praticar intolerância religiosa ou por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Emitida no último dia 27 e publicada no Diário Oficial de Justiça de hoje (10), a recomendação foi após a ialorixá Rosilene Teixeira fazer a denúncia em julho do ano passado. Os acusados ainda não se manifestaram.

Segundo o MP-BA, a religiosa do candomblé contou que ouviu que “macumbeira tem que morrer, sapatão tem que morrer, homossexualismo tem que morrer, feiticeira tem que morrer”. A religiosa ainda relatou ofensas de que sua casa seria “ponto do demônio” e que sua religião era um “negócio do satanás e legião de nigrinhas”.

A recomendação considerou que as declarações “manifestam grave preconceito e ódio por motivo religioso e de orientação sexual” e destaca que a orientação deve ser acatada, sob pena de responsabilização nas esferas civil e criminal.

O documento ainda estabeleceu o prazo de 10 dias úteis, até esta segunda-feira (10), para que os líderes religiosos informem ao MP-BA o acatamento ou não da recomendação e as providências que devem ser adotadas para que o conteúdo seja disseminado entre seus fiéis.

Caso foi registrado no Distrito Integrado De Segurança Pública (Disep), em Vitória da Conquista — Foto: Divulgação/TV Sudoeste

ENTENDA O CASO:

Uma mãe de santo denunciou à polícia um pastor e uma mulher, integrantes de uma igreja evangélica, de ter sido alvo de intolerância religiosa, na tarde de domingo (30), em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia. Segundo a Ialorixá Rosilene Teixeira, ela foi comprar pão, junto com um cachorro, e encontrou a mulher com uma bíblia na mão. As duas voltaram para casa conversando sobre animais, quando a integrante da igreja evangélica descobriu que ela morava em um terreiro de candomblé. Rosilene Teixeira informou que a mulher teria dito que iria “orar por ela” e que a Ialorixá “precisava de Jesus”. Ela diz que também foi chamada de “Macumbeira”, “Feiticeira” e “Sapatão”. “Falei que não precisava dessa oração porque eu tenho a minha crença. Ela disse que eu morava ali [terreiro] e que eu precisava muito das orações e de Jesus”. Rosilene Teixeira disse que ficou revoltada e procurou o pastor Wellington da Silva para que ele aconselhasse os integrantes da igreja a não cometer atos intolerantes. De acordo com a Mãe de Santo, ele também foi intolerante com ela. A Ialorixá registrou um boletim de ocorrência, na manhã desta segunda-feira (1°), no Distrito Integrado De Segurança Pública (Disep). O pastor Wellington da Silva negou as acusações e informou que conhece a Ialorixá há muito tempo e mantinha uma boa relação com ela. Ele também contou que Rosilene Teixeira estava embriagada no momento e que chegou revoltada na igreja. Segundo Wellington Silva, a Ialorixá disse para a integrante da igreja que mandaria os “orixás abençoar” ela. Por isso, a mulher teria dito que iria “orar por ela”.


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