CASO “DR. ORCIONE” | Defesa aterroriza vítimas e expõe vida pessoal para intimidar denunciantes


A defesa do ginecologista Orcione Ferreira Guimarães Junior, acusado de assediar pelo menos 24 mulheres durante atendimento em seu consultório (entenda o caso AQUI AQUI), convocou coletiva de imprensa para que seu cliente apresentasse sua versão mas, em vez disso, leu apenas uma carta supostamente escrita por ele e, de quebra, usou os meios de comunicação para aterrorizar as denunciantes.

Diante disso, um grupo de pessoas, representando o Movimento Social de Mulheres, Coletivo de Mulheres do Campo, mandato da Vereadora Nildma Ribeiro e a professora Dra. Monalisa Nascimento dos Santos Barros, lançou um manifesto em repúdio aos ataques da defesa. O viés intimidatório também tenta cercear o acesso à informação e, de certa forma, ameça a liberdade de imprensa.

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Na coletiva, a advogada do médico, Palova Amisses Parreiras (imagem acima), informou que uma liminar da 1ª Vara do Sistema dos Juizados da Comarca de Vitória da Conquista determinou a exclusão do perfil “@diganaovca”, que deu início à série de denúncias contra seu cliente. 

Ainda na coletiva, na manhã desta sexta-feira (17), a defensora sustentou que “uma das incentivadoras das denúncias é esposa de um médico que estaria sendo prejudicado com a perda de pacientes para o ginecologista Orcione Júnior.

Ela não informou o nome dos acusados, mas informou que já fez a interpelação judicial da suposta caluniadora. “Ontem eu notifiquei a esposa de um dono de uma clínica, de um médico dono de uma clínica. É o que posso falar por enquanto, porque ela não se manifestou ainda”, afirmou Palova Amisses.

Para justificar os motivos das denúncias, a advogada alegou que “os atendimentos da clínica do marido dela decaíram em número significativo depois que o Doutor Orcione foi credenciado pelo certo Plano de Saúde grande que existe aqui em Vitória da Conquista. E ela, essa pessoa, normalmente se vocês procurarem vocês vão achar, aparece no Instagram incentivando ‘denunciem mesmo, vocês têm que denunciar, se você não se lembrar de fato você pode criar um fato que depois ele se confirma’. É o que ela está dizendo”.

O ginecologista se manifestou por meio de uma carta, dizendo ser “inocente e que está sendo vítima de uma “covardia”. A carta foi lida pela advogada: “Eu sou ginecologista que trabalha colocando a mão na mulher. A gente faz os exames de útero, exame vaginal, exame de prevenção de câncer, tocando as áreas da mama e fazer isto [essas acusações] com profissional de ginecologia, é uma covardia”, relatou o médico. Palova Amisses Parreiras, que diz que as alegações das mulheres contra seu cliente são “indevidas, mentirosas e não comprovadas”.
As denúncias contra Orcione começaram a surgir na última sexta-feira (10), depois que um perfil foi criado no Instagram por uma pessoa, que não se identificou, e relatou um caso de abuso por parte do médico, que atende nas redes pública e privada da cidade.

Depois desse primeiro relato, várias outras vítimas denunciaram ter passado pela mesma situação. Mais de 20 mulheres relataram à OAB ter sido vítimas. Nove delas também já procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) para prestar depoimento sobre os casos. Os crimes teriam ocorrido entre 2018 e 2019.

Na carta, o médico afirma que tem 15 anos de profissão e que acredita que pode estar sendo vítima de armação.

“Quero dizer que nós vamos identificar a página criminosa e punir esses criminosos. Mas por que 24 pacientes denunciaram? A resposta é o seguinte: é porque existe algum outro profissional que provavelmente não quer aparecer na denúncia e que tenta me prejudicar. Eu tenho 15 anos de formado, já atendi mais de 15 mil mulheres. Dentro da página criminosa, tem mais de sete mil mulheres, mas elas foram instigadas. Esses relatos são relatos falsos”, afirmou.

Defesa


A advogada Palova Amisses apontou durante a entrevista coletiva nesta sexta que não há provas sobre as denúncias contra o cliente. Ela ainda apresentou uma liminar expedida pela 1ª Vaga do Sistema de Juizados da Comarca de Vitória da Conquista, após ação movida pela defesa, que determina a remoção do perfil no Instagram usado para denunciar o médico e o fornecimento de informações acerca da identidade do criador.

“A acusações são indevidas, mentirosas e não comprovadas com relação a atuação do médico Orcione Ferreira Júnior. Desde o início, não estamos conseguindo detectar verossimilhança entre o que as senhoras estão dizendo e aquilo que está sendo comprovado. Inicialmente, se diz que o blog foi criado depois de muito meditar, de muito pensar, semanas e semanas. Quando a gente pega a data da criação do blog e a data da consulta na qual teria havido o abuso, não tem 24 horas entre um e outra. Então, a falha começa aí”, afirmou a advogada aos jornalistas.

Palova disse que detectou “contradições” nos relatos e que uma das mulheres que se disseram vítimas teria se apresentado à OAB dizendo ser advogada, mas sem ter registro na Ordem.

“Eu estive ontem [quinta-feira, dia 16] com o nosso presidente da subseção da OAB de Vitória da Conquista, e ele nos disse que as pacientes procuraram por ele usando, inicialmente, uma falsidade ideológica, porque dentro da OAB existem inserções, uma delas é a OAB Mulher, criada especialmente para proteger as mulheres advogadas que tivessem sofrido algum agavo. E a pessoa que se intitula vítima e advogada não é advogada. Ela fez o curso de direito, é bacharel, mas não conseguiu passar na prova da OAB. Então, ela iniciou com um blog, um Instagram, com informações falsas e perante a autoridade da OAB também com uma informação falsa”, destacou.

A advogada disse que a defesa conhece a identidade de duas das pessoas que fizeram denúncias e confirmou que o médico prestou atendimento a essas pessoas, mas que, até o momento, não teve acesso aos inquéritos policiais abertos.

“Localizamos apenas dois atendimentos que se confirmam, realmente que houve atendimento. Uma por reiterada infecções ligadas a doenças sexualmente transmissíveis e outra por aborto provocado. Eu não tenho cópia dos inquéritos ainda. Aquelas falas na OAB são informais. O que vale são os depoimentos nas delegacias. Tanto assim que você tem 26 na sala da OAB e nove na delegacia”, disse.

Palova disse que a defesa foi até a polícia e que se dispôs a entregar todas as informações que forem necessárias. Na coletiva, apresentou documentos do Conselho Regional de Medicina da Bahia e de uma clínica de Vitória da Conquista informando que nunca receberam denúncia relacionadas ao médico.

A advogada também disse que tem o registro de conversas entre o médico e as pacientes. Afirmou que o cliente vai conseguir provar que é inocente e que, ao contrário de boatos que circulam na cidade, ele não planeja fugir. “Não temos razão para fugir e não há expedição de mandado de prisão e nem previsão de que isso aconteça”, destacou.

A defesa informou disse que, se as acusações não forem confirmadas, todas as pessoas que fizeram denúncias serão processadas e poderão responder por calúnia, injúria, difamação e poderão pagar indenização.

MANIFESTO

PELO DIREITO DAS VÍTIMAS 
“E se fosse sua mãe, filha ou mulher? O que vc faria”
Repercute em Vitória da Conquista a denúncia de 24 mulheres contra um médico ginecologista que teria molestado as pacientes com estímulos sexuais durante as consultas médicas.

Tudo começou numa página no Instagram onde uma das vítimas denunciou o médico e logo duas dezenas de outras mulheres de diferentes origens e profissões que não se conheciam passaram a subscrever a denúncia contra o médico.

O curioso desse fato é  que as vítimas estão  tratadas como criminosas e o médico como vítima, e agora a defesa do médico tenta desqualificar as mulheres chegando ao limite de expor suas vidas pessoais e questionar seus costumes e valores.  Claramente uma tática da defesa para  minimizar o possível crime cometido pelo profissional.

Este assunto ganha contornos muito graves e deve ser apurado com rigor. Até porque se em poucos dias, 24 vítimas se manifestaram, quantas dezenas ou até mesmo centenas estão escondidas e com medo da eventual represália que os advogados do médico vociferam na imprensa local buscando minimizar a gravidade dos fatos.

Os relatos de cada mulher é emocionante e causa indignação, um profissional usa de sua prerrogativa para apalpar, acariciar, insinuar e até mesmo molestar a genitália de mulheres que buscavam ali apenas um tratamento médico, ultrapassa todos os limites do bom senso.

Cabe ao poder público a preocupação com os pacientes e qual tipo de moléstia eles foram submetidos. 

O fato em questão Demonstra ainda a ausência de mecanismos de controle e a ouvidoria para pacientes. As clínicas o SUS e o próprio CRM precisam instituir canais  especializados para que o paciente possa se manifestar, pois fica claro, neste caso que havia uma demanda reprimida que não encontrou canais de expressão adequados.

Se estas mulheres foram realmente molestadas, e tudo indica que sim, o médico deve ser suspenso de suas atividades, sob pena de cometer o mesmo  crime com outras mulheres. No entanto existe uma tentativa clara de abafar os fatos e inverter a culpa.

Demonstra ainda o machismo enraizado, quando cidadãs que denunciam um crime tentam ser colocadas como culpadas e não tem sua denúncia devidamente apurada, sendo ameaçadas em público caso mantenham suas denúncias.

O assunto precisa ser apurado rapidamente e  com rigor pelos órgãos competentes sob pena que mulheres  vítimas de abusos, sejam consideradas culpadas pelo único crime de ser mulher.

Vitória da Conquista,  17/05/2019
Movimento Social de Mulheres 
Coletivo de Mulheres do Campo
Mandato da Vereadora Nildma Ribeiro
Profa. Dra. Monalisa Nascimento dos Santos Barros



Relatos das mulheres
“Quando eu deitei, ele me examinou, ele fez o toque, com os dedos. Foi quando ele disse que de fato tinha características de um aborto espontâneo. Nesse momento, ele tirou as luvas, jogou no lixo, e começou a massagear os meus seios”. O depoimento é de uma das mulheres que acusam um médico ginecologista de abusos na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, e relata ter sido vítima do médico ao procurar emergência após ter sofrido um aborto espontâneo.
Mais de 20 mulheres relataram à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ter sido vítimas do médico Orcione Júnior durante consultas. Nove delas, até esta quinta-feira (16), também já procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) para prestar depoimento sobre os casos.
A mulher que diz ter sido abusada após sofrer o aborto não quis se identificar. Ela foi uma das que levaram o caso ao conhecimento da Polícia Civil e afirma que ficou traumatizada após o ocorrido. “Naquele momento eu já sabia que aquilo não era procedimento de uma pessoa que tava ali por outros motivos, não tinha por que tocar nos seios. E aí ele, ele começou a acariciar meu corpo todo”, relatou, bastante emocionada.
Caso está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher de Vitória da Conquista — Foto: Reprodução/TV Sudoeste Caso está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher de Vitória da Conquista — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
Caso está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher de Vitória da Conquista — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
A mulher disse que já tinha ido uma vez no médico e que, na ocasião, foi assediada por ele. Afirma que ficou em choque e que só voltou uma segunda vez no mesmo profissional por conta da situação emergencial.
“Eu não conseguia raciocinar e entender que eu estava abortando de um filho que eu não tinha certeza que eu estava esperando, e que ao mesmo tempo eu estava sendo abusada. Eu estava em choque. Eu só queria sair dali”, completou a vítima.
Outra mulher que denunciou o médico à Polícia Civil informou, também sob anonimato, que era a primeira vez que tinha ido em um ginecologista e que ficou confusa inicialmente com as atitudes do médico.
“Ele fez exame nos meus seios e depois, ainda de pé, ele introduziu os dedos em mim e me olhava. A única reação que eu tive foi desviar o olhar e esperar que aquilo acabasse, mas sem entender se aquilo fazia parte ou não do procedimento. Porque na hora, você está ali, você está vulnerável, passa um milhão de coisas na sua cabeça, mas você não consegue discernir se aquilo é normal no procedimento ou não”.
As mulheres contam que não tiveram coragem de denunciar na época dos crimes por medo e vergonha. Mas, quando as denúncias surgiram na internet, elas afirmam que se sentiram encorajadas.
“O sentimento de revolta é muito grande, e eu acho que o que dói mais é a descrença de algumas pessoas por acreditarem que a gente está fazendo isso para querer aparecer, para querer ganhar mídia. Essa coisa da culpabilização da vítima é bastante complicado”, destacou.
Caso
As denúncias começaram a surgir na última sexta-feira (10), depois que um perfil foi criado no Instagram por uma pessoa, que não se identificou, que relatou um caso de abuso por parte do médico Orcione Júnior, que atende nas redes pública e privada da cidade.
Depois desse primeiro relato, várias outras vítimas denunciaram ter passado pela mesma situação. Os crimes teriam ocorrido no consultório do médico, entre 2018 e 2019.
Na última segunda-feira (13), as mulheres procuraram a OAB solicitando uma audiência com representantes do órgão.
“Vinte e quatro mulheres procuraram a OAB com a narrativa, repetindo o que estava nas redes sociais, e pedindo que a OAB tomasse providência. A OAB formalizou esse pedido, todas elas assinaram e, a partir desse momento, a OAB oficiou a autoridade policial, que foi a Delegacia da Mulher, através da doutora Decimária Gonçalves, pedindo providências”, disse a presidente da Comissão Mulher Advogada da OAB, Luciana Santos Silva.
“Temos notícia que o inquérito já foi instaurado. Então, já estão investigando e algumas mulheres, inclusive, já foram ouvidas. Pelo que a gente leu, sobretudo nas redes sociais e com as falas de algumas mulheres lá na OAB, a gente pode vislumbrar, sem dar tanta certeza, porque ainda tem uma investigação em curso, o crime de importunação sexual mediante fraude”, completou.
A delegada Decimária Gonçalves, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Vitória da Conquista, informou que, ainda na segunda-feira, foi aberta uma Investigação Pública Incondicionada, que não necessita de depoimento de vítima, porque na ocasião nenhuma mulher ainda tinha comparecido à unidade para relatar o caso.
Após a conclusão das investigações, a Polícia Civil informou que enviará o caso ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) para que as providências sejam tomadas.
O MP-BA informou, na quarta, que já está acompanhando o caso e aguarda a conclusão do inquérito por parte da Polícia Civil para decidir, com base nos autos, se vai ou não oferecer denúncia contra o suspeito. || Com informações do Blog do Anderson, Correio 24 Horas e G1.

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