CAIXA PRETA – Prefeitura de Conquista lacra 74 ônibus da Viação Vitória; reportagem investigativa abre “caixa preta” da empresa


Jussara Novaes (Sudoeste Digital) – Somente após um grave acidente envolvendo dois ônibus da Viação Vitória, no último domingo (15) é que a Prefeitura de Conquista resolveu “agir”, 24 horas depois, e lacrar, até o momento, 74 veículos da empresa que não se adequavam á condições mínimas de segurança. Apenas 8 estão em circulação.

O que parece uma preocupação do município com vidas humanas é, na verdade, uma tentativa de camuflar problemas antigos envolvendo a Vitória, mas que sempre foram ignorados pela fiscalização.

As principais irregularidades encontradas foram pneus carecas, sinalização deficiente, tacógrafo em mau estado, entre outros. Os veículos só serão liberados, segundo a fiscalização, após nova vistoria, quando a empresa fizer a manutenção dos itens de segurança que se encontram em estado irregular.

Em nota, a Prefeitura informou que agentes de transporte e o coordenador de Transporte Público, Jackson Apolinário Yoshiura, foram à sede da Viação Vitória para realizar “inspeção surpresa” nos veículos da empresa. Ainda em nota a Prefeitura esclarece que “prioriza a segurança da população, bem como reconhece o direito a padrões adequados de qualidade no oferecimento do serviço de transporte coletivo”.

Não é o que parece. Ao longo dos meses a Viação Vitória se envolveu em vários acidentes, sem que nenhuma providência enérgica fosse adotada pela Prefeitura. E não foi por falta de aviso. Em maio deste ano o Sudoeste Digital denunciou as péssimas condições dos ônibus da Vitória.

Dias depois o feixe de molas do ônibus da Viação Vitória, da linha D-38, que faz o itinerário para o bairro Alto Maron, um dos mais populosos de Conquista, se soltou em pleno Terminal Urbano, expondo publicamente o sucateamento da frota da empresa. O incidente aconteceu dia 5 de maio, em pleno horário de pico.

No dia seguinte, usuários gravaram um vídeo mostrando outro ônibus da mesma empresa trafegando por vários quilômetros com as portas traseiras abertas. A empresa é reincidente em outros problemas mecânicos.

Em 22 de março deste mesmo ano um ônibus lotado soltou duas as rodas traseiras quando chegava ao terminal, se arrastando por alguns metros antes de parar.

Em nota á época, a empresa fez “mea-culpa” (frase latina que, em português, pode ser traduzida como “minha culpa”, ou “minha falha”) e disse, em nota, ter constatado que, “por falta de aperto, as porcas dos parafusos dos pneus se soltaram e a roda saiu”, transferindo parte da culpa para o borracheiro responsável pelo turno da noite.

Mesmo com todos esses problemas, além de veículos quebrados em vias públicas, nenhuma fiscalização de grande porte foi feita.

Com o agravamento da situação no último domingo, o que resultou no editorial “Roleta Russa: Uma ‘brincadeira mortal’ imposta aos passageiros do transporte público”  a Prefeitura tentou amenizar a situação gravíssima, convocando uma força-tarefa e dando publicidade à ação desta terça-feira, visando se respaldar juridicamente.

Eis aí a razão dessa “roleta russa” no transporte coletivo, onde arma mais perigosa talvez nem seja um veículo desgovernado, mas uma certa caneta a quem o prefeito tanto se vangloria de ostentar em suas mãos.

A arma está nas mãos da cumplicidade. Roleta Russa. É o que o prefeito Herzem Gusmão vem praticando à custa de vidas alheias. E o pior, com a vida  do povo que ele representa, ou diz representar. Existe aí a figura jurídica da prevaricação, ao faltar ao cumprimento do dever por interesse ou má-fé. Dolo Eventual ou Culpa Consciente?


O último acidente, falta de freios no Bairro Alto Maron, parte elevada da cidade, é mais um de uma série e revela que todos correm riscos, mesmo aqueles que não andam de ônibus. Uma tragédia anunciada, que bem poderia ser evitada, mas nada se tem feito para coibir esses atos criminosos contra a vida humana.


E a munição da arma para este macabro esporte do prefeito tem sido a Viação Vitória, uma das empresas de transporte público de Vitória da Conquista. Vidas dentro e fora dos ônibus dessa empresa são usadas tal qual personagens descartáveis de “jogos mortais” praticados pelo Executivo.

REPORTAGEM INVESTIGATIVA 


Fiscalização na Viação Vitória é jogo de cena:
Problemas continuarão a existir nos ônibus

O fato é que exige uma lógica, e esta provou outra vez que a prefeitura não fiscaliza de fato a frota da Viação Vitória. Hoje, novamente a prefeitura repete o jogo de cena, lacrando mais de 70 ônibus. Que a população saiba que tudo não passa de teatro. Senão, vejamos. Para que a apreensão resulte em efeitos verdadeiros a empresa teria que estar preparada da seguinte maneira:

A – Ter várias rampas de manutenção (onde o mecânico fica embaixo do ônibus).A empresa tem apenas três dessas valas;

3 – Ter um contingente de mecânicos e eletricistas para estes veículos lacrados;

4 – Estar com o almoxarifado lotado de peças e acessórios para suprir a demanda exigida por estes veículos lacrados.

Esta é, basicamente, a lógica que jamais irá acontecer. Em três dias todos estes mesmos veículos estarão circulando normalmente e vidas e patrimônios novamente em risco.


Uma frota de ônibus não se conserta de uma hora a outra É fruto de vigilância 365 dias no ano. É consequência de investimentos dia e noite em cada ônibus.

A reportagem apurou que as manutenções necessárias para que a frota retida volte a circular com segurança plena não serão realizadas. “Será apenas um movimento para justificar a quase tragédia de domingo”, confidenciou uma fonte ligada ao setor de fiscalização do transporte público.

Foi apurado ainda que a Viação Vitória teria que investir, no mínimo, cerca de R$5 mil por carro somente para este rápido pente-fino nos itens de segurança e, assim, atender a este emergencial.  “Se não tem recursos para pagar a folha de pagamento, imagina a frota”, lembra uma fonte.

Outro fator é o da logística. A empresa não dispõe de valas ou rampas de manutenção necessárias para acolher estes ônibus interditados. Outro agravante: teria que dispor de um “batalhão” de mecânicos, moleiros  e eletrificas para se dedicarem aos veículos e, por fim, de um almoxarifado “sortido” de componentes, peças e acessórios. “De modo que, nesta lógica, pouco ou nada ocorrerá”.

Manutenção em transporte público é fruto de um zelo 365 dias ao ano Logo, não funciona assim, com um “lacrou e em uma semana está tudo certo”.

A empresa de ônibus tem que ter caixa e provisionamento na ordem de R$2 mil de fluxo para manutenção por ônibus mês ou quase R$2 milhões ao ano. Isto considerando uma frota dentro da idade média do contrato de concessão (mínimo de 3 e máximo de 4). A Viação Vitória possui mais de 30% frota acima de 10 anos e a idade média da frota com 8 anos. Impossível levar adiante com a cidade tomada por mais de 600 veículos clandestinos, entre vans e carros de passeio.

“Ou investe esta grana mensalmente em cada ônibus, ou se promove política de renovação de frota. Esta última é a mais saudável para o passageiro e o meio ambiente. Gastar absurdos com manutenção de carro velho é colocar o suado dinheiro do passageiro em local errado. Como o trocadilho: gastar sal bom com carne podre”, aconselha a fonte.


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