O EL PAÍS tentou falar com o pai de João, sem sucesso. Eles contrataram um advogado que vai pedir a exumação do corpo do adolescente para contestar o laudo do IML. Eduardo Nunes, rapper e pai de um dos amigos do garoto, tem sido o porta-voz da família. “Conheci o João. Ele era um menino bom. Sempre participou de intervenções artísticas e se interessou pelo rap”, contou ele, que falou sobre o ocorrido. “Ele pedia moedas em frente ao Habib’s. Naquele dia, ele insistiu em continuar pedindo mesmo depois de pedirem para parar, e aí os funcionários fizeram aquilo”, diz DuRap.
“Aquilo”, no caso, seria a agressão promovida pelos funcionários da lanchonete, segundo a versão de familiares. “Disseram que ele quebrou um vidro, saiu correndo e teve um mal súbito, mas o que aconteceu não foi isso. As testemunhas disseram que os dois foram atrás dele, o espancaram e, como aparece no vídeo, carregaram o moleque até a calçada”, afirma o amigo da família. Pela sua versão, ele já estava morto quando ele aparece sendo carregado nas imagens.
O Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo manifestou-se sobre o assunto argumentando que o laudo do IML é somente uma prova e precisa ser confrontado com o depoimento de testemunhas. “Pelo menos duas testemunhas até o momento relataram na delegacia a ocorrência de agressões contra o adolescente. Ainda é necessário se apurar de que forma essas supostas agressões e perseguição de funcionários do Habib’s podem ter contribuído para a morte do menino”, diz Ariel Castro, do conselho. De acordo com Castro, a polícia dispensou uma testemunha que disse ter visto a suposta agressão porque ela ser “moradora de rua”.
Enquanto não há uma resolução para o caso, os familiares seguem protestando, e farão parte de um ato marcado para o próximo dia 16, às 17h, em frente à Catedral da Sé, no marco zero da capital paulista. “Queremos, acima de tudo, que os dois assassinos sejam presos. As negociações com o Habib’s ficarão para depois”, disse.
Esta é a segunda tragédia envolvendo o dono da rede de fast food, Alberto Saraiva. A primeira foi o assassinato do seu pai, durante o assalto à pequena padaria que ele comandava na periferia de São Paulo. Saraiva tinha então 20 anos, e precisou largar a faculdade de Medicina para assumir o negócio do pai. Acabou levando jeito como empresário até abrir o Habib’s nos anos 1980. Agora, aos 64 anos, vê a marca do seu fast food envolvida na morte de um adolescente.
Por Guilherme Padin / El País