BOM JESUS DA SERRA | Exames gratuitos revelam saúde das vítimas do amianto

Fotos: Inácio Teixeira/Coperphoto

Numa iniciativa da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) e da Associação das Vítimas Contaminadas pelo Amianto e Famílias Exposta (Avicafe) em 2 de setembro começou o rastreamento da saúde dos ex-empregados e familiares da antiga mineração de amianto (SAMA), do grupo Eternit, em Bom Jesus da Serra, no sudoeste baiano.
Até 21 de setembro, 450 pessoas que trabalharam ou vivem em casas contaminadas pelas fibras cancerígenas do amianto – muitas têm morrido sem diagnóstico – serão examinadas por uma carreta-tomógrafo do Hospital do Câncer de Barretos (SP). O amianto, proibido no Brasil desde 2017, provoca doenças em quem se expôs no trabalho ou ambientalmente até 60 anos após a primeira exposição.

Rompendo o silêncio epidemiológico abissal

As ações de vigilância à saúde vão contemplar populações de Bom Jesus da Serra, Caetanos, Poções e Planalto, começando na manhã de segunda-feira, em reunião preparatória do trabalho com a presença de médicos, associações de vítimas, técnicos da área da saúde e da população em geral, numa escola nova que foi “desamiantizada”. As pessoas passarão por exames de saúde com o objetivo de identificar eventuais sinais de câncer decorrente da exposição prolongada ao agente químico.

A articulação pela Abrea e Avicafe com o Ministério Público do Trabalho (MPT), através das PRTs- 2/SP e 5/Vitória da Conquista, conseguiu com o MPT o custeio dos exames das vítimas do amianto, que, há mais de 20 anos, esperam conhecer sua real situação de saúde afetada pelo cancerígeno amianto desde o início da exploração da mina de São Félix do Amianto, em 1939. A Abrea e a Avicafe fizeram a contratação dos serviços de saúde com os recursos repassados pelo MPT – fruto de indenização por danos morais coletivos paga em processos judiciais por empresas que descumpriram a legislação trabalhista – e conduzem essa mobilização.

O local foi explorado pelo grupo francês Saint-Gobain (Brasilit), sucedido pela Sama (Eternit), durante 30 anos, que abandonou o local sem qualquer preocupação com os resíduos da exploração do minério para trabalhadores e para os demais residentes na região. Mesmo desativada, a mina ainda oferece riscos à população. A empresa deixou um trágico passivo ambiental que atinge até quem nasceu depois do fim da exploração do minério. As ruas são calçadas com escória deste carcinogênico e as casas contêm restos do material.

A investigação sobre os reais impactos na saúde de cada um dos expostos propiciará uma série de desdobramentos, incluindo políticas públicas efetivas nas áreas de saúde e meio ambiente. A fundadora da Abrea Fernanda Giannasi afirma que “só o esforço coletivo pode levar ao fim do silêncio epidemiológico abissal que temos em nosso país sobre as doenças relacionadas à exploração de minerais cancerígenos, como amianto, urânio e outros. Precisamos conhecer e reconhecer os casos destas doenças para permitir às vítimas a proteção social que elas têm direito”.

Legado mortal

A jazida de São Félix desativada há 56 anos na cidade Bom Jesus da Serra, no sudoeste da Bahia, ainda oferece riscos à população. O local foi explorado pela empresa Sama, do grupo Eternit, durante 30 anos, atraindo trabalhadores, que acabaram sofrendo com os efeitos do amianto à saúde.

Grande parte do terreno onde a mina era explorada, com 700 hectares de área, continua contaminada pelo minério. A escavação foi tão profunda no local que atingiu o lençol freático e formou um rio.

O amianto é uma substância extraída de rochas compostas de silicatos hidratos de magnésio, altamente cancerígena. O minério é utilizado em produtos como caixas d’água, telhas onduladas, tubulações, discos de embreagens, mangueiras e papelões.

Com a instalação da jazida, a Sama ergueu uma vila onde morava metade dos 400 funcionários na cidade. O local abrigou uma escola, sala de cinema e até uma pista de pouso. Atualmente, a vila está abandonada.

Por conta dos danos causados aos moradores, em agosto deste ano, a Justiça condenou a companhia Eternit a pagar R$ 500 milhões para tratamento de contaminados com o amianto. A empresa informou que recorreu da decisão da Justiça.


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