AVENIDA BRUMADO – Conquistenses divergem sobre alteração da via para mão dupla

Uma pauta complexa para o governo municipal debulhar.
Sob fortes protestos de comerciantes locais, a Avenida Brumado – uma das mais movimentadas de Vitória da Conquista – teve seu tráfego alterado em fevereiro de 2014, tornando-se mão única sentido bairro-centro, integrando-se a um acervo de intervenções procedidas em diversas vias, como as Avenidas Pará e Maranhão, que também passaram a ter mão única, no sentido centro-bairro. Exatos dois anos depois, a avenida Brumado ainda suscita muitos debates e não são poucos os comerciantes que mantém firme a convicção de que foi um erro a mudança.

A pauta-bomba já alcançou o colo do governo municipal, que deve se debruçar sobre o tema ainda neste mês de janeiro e assumir uma postura objetiva: manter como está, voltar ao que era ou uma coluna do meio. O Diário Conquistense usou as redes sociais para ouvir a opinião dos conquistenses e constatou que o tema, de fato, não apenas divide opiniões, como estas são apaixonadas. Costumeiro nesses espaços virtuais, não faltaram analistas de todas as matizes, desde “engenheiros de tráfego” a “urbanistas” e “especialistas em trânsito”. Todos muito bem intencionados, evidentemente.

REDES SOCIAIS: Visivelmente, à pergunta “A avenida Brumado deve voltar a ser mão única?”, o não venceu em disparada, mas os favoráveis às mudanças formularam opiniões para demonstrar a coerência de suas opiniões. “Quem imaginou tamanha sandice?”, indagou um. “Aff. Quem ressuscitou essa ideia?”, chateou-se outro. “Não, mas o sentido deve ser alterado, vez que é uma Avenida de Comércio de Saída”, opinou o ex-vereador e advogado Andresson Ribeiro. “Não. Conquista tem que parar com o estereótipo de cidade pequena. 360 mil habitantes… Já está grandinha… Olhar pra frente sempre… Retrocesso jamais”, argumentou outro internauta. “Acho que a ciclovia poderia ser relocada para a Avenida Piauí”, argumentou um advogado. “O correto é voltar a ser mão dupla. Quem paga o IPVA são os donos de veículos e não os ciclistas”, argumentou outra pessoa.

O professor e filósofo Euvaldo Cotinguiba Gomes demonstrou ter tomado um susto com a volta do tema: “Sério mesmo que estão discutindo essa mudança ainda? Se isso tiver algum parâmetro em questionamentos da secretaria de mobilidade a coisa é muito séria, não é possível que não consigam enxergar as melhoras trazidas por aquela mudança, sobretudo uma secretaria que diz estar querendo melhorar a mobilidade da cidade”. Um outro internauta disse o seguinte: “Deixaram mão única para melhorar o trânsito, mas colocaram uma ciclovia que ocupa praticamente o mesmo espaço que a pista oposta ocupava, então não resolveu nada. Ou volta mão dupla e tira a ciclovia ou deixa mão única e torne a ciclovia mais estreita. Prefiro esta segunda sugestão”.

Outro interessado no assunto, Jeonan Macedo de Queiroz declarou que é “preciso haver um estudo minucioso em relação aos pros e contras. O que não dá eh ter uma avenida de mão única, onde o intuito era fluir o trânsito, e o que percebemos foi uma piora. Nunca na história desta cidade havia tido engarrafamento naquela avenida, mesmo quando tinha um policial na porta do Paulo VI parando o trânsito para pedestre. Penso que se houvesse possibilidade de ser mão dupla, com duas faixas pra cada mão, aí sim, não havendo está possibilidade, ainda sim prefiro mão única, com ciclovia estreita, como em todo resto do país, e sem estacionamento, com duas vias em toda sua extensão”.

NAS RUAS: o repórter Maurício Sena foi in loco ouvir usuários contumazes da Avenida Brumado para saber-lhes a opinião – novamente divididas. O chefe-de-pista do Posto Passarela Shell, Thiago Matos, por exemplo, afirma ter havido “um impacto negativo e queda de 40% do movimento”. Como efeito imediato, demissão e desemprego. O número de funcionários do posto caiu de 10 para seis. “Então a volta da mão dupla seria importante, significante”, argumenta.

O motorista profissional Ronaldo Adriano Lemos, 40 anos, entende que alterar o trânsito para mão dupla significaria um retrocesso, e dá palpites sobre intervenções que devem ser feitas em ruas próximas. “Existem problemas a serem resolvidos, como mudar o sentido da Avenida Pará e da Piauí, mas voltar a Avenida Brumado ao que era antes é regredir”.

O comerciante de automóveis Fabrício Moreira Andrade esclarece que, logo no início, a mudança teve impacto negativo, “mas aos poucos foi normalizando comercialmente”. No entanto, quando o assunto é mobilidade, ele admite: “Ainda está aquém da proposta,  com muitas filas, sendo muito pouco utilizada a ciclovia, de modo que o mais interessante seria tirar a ciclovia e deixar duas mãos únicas”.

O floricultor Marcos Lopes Ferraz, há vinte anos comerciando na Avenida Brumado, tem uma visão que transita entre a lógica comercial e os interesses coletivos. “Para o comércio houve impacto negativo para todos os segmentos, mas para a mobilidade urbana houve melhorias, até porque o estacionamento zerou. O trecho era três mãos,  com carro parado no meio, era mão tripla e gerava muitos acidentes”, lembra o comerciante.

Texto originalmente publicado por Fábio Sena em Diário Conquistense (www.diarioconquistense.com.br)


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