ÁUDIO-POEMA | Trago boas novas (Marco Antonio Jardim)*

TRAGO BOAS NOVAS

Ei, você! Trago boas notícias.
Atravessei o Atlântico para visitar o futuro. 

Escrevi cartas e lancei-as ao mar em garrafas.
E digo a você que é mais agradável esse percurso de periodista do mar do que o de poeta rapsodo da esquina.

Poeta que recita versos para uma multidão que só anseia por andrajos de palavras. 
Cansei-me dos incêndios alimentados com corpos, dos “fortes” que matam por pouco, dos “fracos” que dormem sono rouco, doloroso.

Com sonhos vagos despertados em sobressalto, roubados dos instantes que nem os têm.
O que localizei no mapa de além foi um bom relato, uma coisa, uma ideia.
Um registro sísmico da alma.

Daqueles de fazer pensar, botar a calma a sorrir.

Uma risada farta e genuína, uma epifania agasalhando o coração.
Como duas ossadas de 6 mil anos atrás, encontradas em suposto vínculo de gratidão.

 

Abraçadas no devir, na afeição, na eterna satisfação de poder servir.
Descobri, por além mar, uma fábula, uma passagem clarividente para o antropoético sol nascente.


Procurei uma réstia de luz que mudasse toda essa sinopse do mundo e encontrei.
Na luz das estrelas distantes, emitida há milhares de anos.
Mortas, mas ainda brilhantes.

Então, torno-as públicas, as boas notícias, os luminosos corpos celestes.
Em maior número possível, visíveis até na madrugada.

Ou quando o sol acende um vermelho na parede e as pétalas de flor de pitangueira forram o chão do quintal. 

Ouço o vento passar, e, nesta primavera, trago, feito arauto, as boas novas: não estamos vivos nessa nau em vão.
Esta é a notícia do mundo do lado de lá que oferto para a nossa tripulação: o indício de uma morada real.

Mesmo que lhe pareça banal, na partida, esta notícia de outra vida.

Marco Antonio Jardim é formado em História, empresário da área de publicidade com a agência vOceve Multicomunicação, assessor de imprensa, diretor de conteúdo e marketing digital, escritor e poeta.


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