Dez presos na Operação Overclean, deflagrada nesta terça-feira (10), já estão custodiados em unidades da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), enquanto outros serão alocados entre a Cadeia Pública e o Presídio Salvado.Os detidos passaram pelo Centro de Observação Penal antes de serem encaminhados aos locais finais.
Fontes relataram para reportagem que os presos têm recebido atendimento jurídico regular e os itens básicos fornecidos pela unidade prisional, incluindo kits de higiene, fardamento, colchões e alimentação.
A rotina alimentar segue os padrões do sistema penitenciário, com café da manhã à base de café e pão com manteiga, além de almoço e jantar compostos por arroz, feijão, salada, suco e proteínas variadas, como carne, frango e ovo, dependendo do dia.
A Operação Overclean investiga desvios que podem ultrapassar R$ 15 milhões, com denúncias de fraude em contratos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Segundo a decisão judicial da 2ª Vara Federal Criminal de Salvador, o esquema envolvia empresas fantasmas, superfaturamento e pagamento de propinas. Entre os alvos está o ex-coordenador do DNOCS, Lucas Lobão, apontado como integrante central da organização criminosa.
RELEMBRE – Empresários, servidores públicos e até um vereador eleito estão entre os alvos da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal na manhã dessa terça-feira (10). A organização criminosa é suspeita de fraudes licitatórias, desvios de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro, tendo movimentado aproximadamente R$ 1,4 bilhão. Desse montante, parte é proveniente de emendas parlamentares e contratos firmados com órgãos públicos apenas em 2024.
O desvio ocorria por meio de contratos superfaturados firmados com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos e lavagem de dinheiro.
Confira abaixo o que se sabe sobre os suspeitos detidos na Bahia e qual seria a participação de cada um deles no esquema, de acordo a PF:
- Alex Rezende Parente
Suposto líder da organização criminosa, Alex é sócio-proprietário das empresas Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda., Larclean Ambiental, Rezende Serviços Administrativos Ltda., FAP Participações Ltda., e Qualymulti Serviços EIRELI – ME. Ele é suspeito de fraudar licitações com o setor público.
Segundo os investigadores, o homem era o responsável por coordenar a execução das fraudes em licitações, negociar diretamente com servidores públicos e organizar o pagamento de propinas.
- Fabio Rezende Parente
Fábio Rezende é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Irmão de Alex, Fábio é também sócio-proprietário de empresas como Larclean, Allpha Pavimentações, FAP Participações LTDA., e Rezende Serviços Administrativos LTDA.
Ele é apontado como integrante do “núcleo central da organização”, atuando como executor financeiro da organização, realizando as transferências bancárias e os pagamentos de propinas. Ele é suspeito de utilizar contas bancárias em nomes de terceiros, como a da empresa fantasma Bra Teles Ltda.
- Lucas Maciel Lobão Vieira
Lucas Lobão é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
- José Marcos Moura
José Moura é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Entre os demais suspeitos detidos na Bahia estão:
👉 Francisco Manoel do Nascimento Neto, eleito vereador para o mandato 2025-2028 em Campo Formoso, pelo partido União Brasil, e primo do deputado Elmar Nascimento (União-BA). Antes de ser preso, Francisco tentou se livrar de dinheiro em espécie que mantinha em casa.
Francisco Nascimento é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Flávio Pimenta foi exonerado da Prefeitura de Salvador após ser preso no âmbito da Operação Overclean — Foto: Reprodução/Prefeitura de Salvador
👉 Clebson Cruz de Oliveira, suspeito de fornecer apoio logístico à organização criminosa em Salvador, executando tarefas manuais como o saque de grandes quantias para pagamento de propina e a entrega desses valores em nome dos empresários.
👉 Kaliane Lomanto Bastos, coordenadora de Projetos, Execução e Controle na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de Jequié. Ela é suspeita de receber R$ 48,7 mil de propina para liberar pagamentos retidos em contratos públicos firmados entre a empresa Allpha e a prefeitura.
Kaliane Lomanto é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
👉 Orlando Santos Ribeiro, secretário de Governo de Itapetinga. É suspeito de receber propina em troca de ações que favoreciam empresas do grupo criminoso nos contratos fraudulentos. Orlando foi libertado na tarde dessa quarta-feira (11) e exonerado do cargo.
Orlando Ribeiro é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Diego Queiroz é suspeito de integrar organização criminosa acusada de desviar recursos públicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais
👉 Geraldo Guedes de Santana Filho, sócio da A G&M. É suspeito de atuar como funcionário de Alex Parente, “executando funções de contabilidade, secretariado, além de tratativas diretas com agentes do setor público envolvidos nos contratos firmados com a Larclean”.
👉 Evandro Baldino do Nascimento, empresário do ramo de construção. É suspeito de colaborar com o sustento logístico e operacional da organização criminosa em fraudes licitatórias nos municípios de Oliveira dos Brejinhos e Campo Formoso.
- Claudinei Aparecido Quaresemin, secretário de parcerias público-privadas do Tocantins. É suspeito de receber pagamentos de Alex Parente para favorecer a Larclean em contratos licitatórios.
- Iuri dos Santos Bezerra é suspeito de participar das atividades ilícitas do grupo, conforme destacado pelo MPF.
Além deles, Itallo Moreira de Almeida e Ailton Figueiredo Souza Junior foram alvos de mandados de prisão, mas estão foragidos. O primeiro é servidor da Secretaria de Educação do Tocantins, suspeito de favorecer empresas nas licitações.
Já Ailton teria atuação em Salvador. A PF afirma que ele possui “amplo e irrestrito acesso aos mais diversos setores da Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas”, a ponto de até “dar ordem para pagamento”.
Entenda o modus-operandi da organização criminosa
PF cumpre mandados judiciais em cinco estados — Foto: Divulgação/Receita Federal
Veja abaixo como o grupo atuava:
- por meio de operadores centrais e regionais, que cooptavam servidores públicos para obter vantagens indevidas, tanto no direcionamento quanto na execução de contratos;
- após garantir a celebração dos contratos fraudulentos, as empresas envolvidas superfaturavam valores e aplicavam preços acima dos preços referenciais de mercado;
- os pagamentos de propinas eram realizados por meio de empresas de fachada ou métodos que dificultavam a identificação da origem dos valores.
A Receita Federal informou ainda que as investigações apontaram também que a lavagem de dinheiro era realizada de forma “altamente sofisticada”, incluindo o uso de:
- empresas de fachada controladas por “laranjas”, que movimentavam os recursos ilícitos;
- empresas com grande fluxo financeiro em espécie, utilizadas para dissimular a origem dos valores desviados.
Relatórios elaborados pela Receita Federal, em cumprimento à ordem judicial, apontaram inconsistências fiscais, movimentações financeiras incompatíveis, omissão de receitas, utilização de interpostas pessoas e indícios de variação patrimonial a descoberto.
Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, com penas de 2 a 12 anos de reclusão, peculato, fraude em licitações e contratos e lavagem de dinheiro. As penas somadas podem ultrapassar 50 anos de reclusão, além das multas previstas na legislação.
O que dizem os investigados
Em nota, a defesa de Alex Rezende Parente, Fábio Rezende Parente e Lucas Maciel Lobão Vieira disse que ainda não obteve acesso aos autos do processo, mas ressaltou que o trio deseja esclarecer “todos os fatos no curso da investigação e eventual processo”.
“A defesa, contudo, pretende se manifestar sobre o mérito da acusação perante as autoridades competentes, no tempo e local adequados”, diz a nota assinada pelo advogado Sebástian Borges de Albuquerque Mello.
A reportagem tentar localizar as defesas dos demais suspeitos.
As equipes também procuraram as prefeituras e empresas mencionadas na decisão. A Prefeitura de Campo Formoso divulgou um comunicado para informar que não irá se manifestar, pois não teria sido citada nos autos do processo. Apesar disso, a gestão municipal ressalta que está à disposição para eventuais esclarecimentos.