Faz 45 anos que comecei minha militância política e naquela época, mudar o mundo significava melhorar a vida, distribuir o poder, o conhecimento e a riqueza tendo como ferramenta para transformação, um senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos. Isto é, construir uma sociedade mais livre e decente.
Quarenta e cinco anos se passados e durante este tempo passei a ouvir que os recursos de que dispomos são escassos, não chegam para todos, que por isso é preciso produzir mais riqueza e que o aumento da produção, por sua vez, depende da competitividade que só a iniciativa privada pode assegurar, isenta é claro, da burocracia estatal, preconceitos arcaicos e outros entraves.
Até se inventou um novo nome e uma doutrina para isto: “empreendedorismo”. Já os problemas da pobreza e da exclusão não precisávamos nos preocupar, assim se não forem resolvidos, sempre ficariam bem justificados!
Minha geração terminou descobrindo que o deserto político apenas sobrevive um valor e uma medida: o sucesso individual. A lealdade, a responsabilidade, a mera coerência apenas valem se passarem o crivo do sucesso. Neste novo mundo, o mercado passou a impor as suas próprias regras e só elas valem independentemente dos resultados: ganhou a especulação?
A livre concorrência conduziu a uma inédita concentração da riqueza? Os serviços públicos degradaram-se? A inovação foi irrisória? Então foi por falta de iniciativa individual e insuficiente desregulação! Enquanto o domínio do mercado não se impuser a todos os setores da sociedade a promessa do admirável mundo novo continuará por cumprir!
Tenho tido oportunidade nestas quatro décadas de acompanhar muitos comediantes subiram ao palco do poder: com Reagan ou Trump, nos Estados Unidos; Tony Blair, no Reino Unido; e seus homólogos no Brasil, na Itália ou na Ucrânia. Contudo, a democracia não é uma farsa. Mudar o Mundo diante dos ataques fascistas, tornou-se uma tarefa urgente.
E dispomos dos meios adequados para devolver à representação democrática o sentido da responsabilidade e da prestação de contas aos cidadãos. É por este caminho que podemos impedir o descrédito das instituições políticas e reconstruir a confiança tão levianamente desbaratada nas últimas décadas.
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* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)
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