ARTIGO | Um aggiornamento constante (Padre Carlos)*

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Meu amigo Teófilo
“Não vos conheço, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade…” (Mateus 7,23).

  Não podemos negar o que representou para Igreja e para o mundo de uma forma geral, o Concílio Vaticano II, não seria exagero de minha parte dizer que ele foi o maior acontecimento da Igreja no Século XX.

Assim como hoje, a necessidade de mudanças e de adaptação da Igreja aos “novos tempos” é de fundamental importância e não podemos adiar mais quanto às temáticas da moral cristã: o acesso à Comunhão para casais em segunda união; a relação com os homossexuais; O celibato dos padres, a ordenação das mulheres e mudanças na estrutura da Cúria Romana. No entanto, presenciamos duas correntes de pensamentos antagônicos, disputando a hegemonia de propostas para Igreja deste novo milênio.

Uma das coisas que tem me chamado atenção nos últimos tempos, foi à surpresa ao ver, os segmentos mais conservadores do catolicismo tomar a iniciativa e “saíram do armário,” eles sabem que este é o momento e que está pra chegar um novo Aggiornamento e por isto, são obrigados a deixarem os abrigos das sacristias e revelar de forma clara, qual o formato de Igreja que eles defendem para o conjunto da comunidade de fé. Completam esse bloco grupos tradicionalistas já conhecidos, como a Opus Dei.

Dentre todos talvez seja o de maior poder financeiro e influência política. Têm ligações com governantes, juristas, além de espaço garantido na grande imprensa.  Eles sabem que não podem mais se esconder ou omitir suas posições, sabemos que grupos ultraconservadores sempre tiveram livre trânsito em algumas dioceses, mas o que vemos agora é um protagonismo que não se via na Igreja do Brasil, salvo em poucos lugares até 25 anos atrás. Esse caldo de cultura religiosa acabou por formar uma geração inteira de leigos dentro de uma visão estreita da fé cristã e do seguimento de Jesus.

Essa é uma luta que está sendo esperada há muito tempo. Não seria possível uma Igreja dos pobres se constituir enquanto comunidade de fé, se nós não nos confrontássemos com essa teologia liberal e conservadora, com esses discursos, com essas pessoas. Este confronto de proposta para o futuro da Igreja estava traçada pra se dá desde o final do Concílio, é não se deu neste meio século pela ausência de um pontificado capaz de enfrentar os desafios e as incertezas da Igreja que poderá sair deste encontro.

Desta forma, ao constatar as igrejas vazias, os conventos vazios, os seminários também meio vazios, com uma teologia extraviada diante dos problemas mais urgentes deste momento, me pergunto, onde ficou no tempo a Igreja  da expressão mais concretizada da mensagem central de Jesus: o amor só se realiza na partilha, no movimento que realizamos na direção do outro, da outra.

Não há cristianismo quando vige a insensibilidade diante da miséria e da fome, das doenças que as acompanham, da opressão e humilhação dos mais pobres.

Diante destes fatos, é necessário um novo  Aggiornamento, isto é: atualização, renovação, reforma mesmo.
(Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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