ARTIGO | Sobre o Carnaval de Rio de Contas, que deveria ser cultural


Ainda não conhecia o carnaval de Rio de Contas, Bahia, quando diziam ser um carnaval diferente desse que ao longo do tempo vem ganhando terreno na cidade do Salvador, ou seja, uma incômoda profusão de ritmos, fora da linha momesca, onde curiosamente quem fez ou fazia o carnaval da Bahia, simplesmente tem se desparecido do cenário do Carnaval deste Estado, faz é tempo. Na segunda-feira do carnaval, acompanhei um belo show do cantor, compositor e militante da cultura afro-baiana, Lazzo Matumbi, no pelourinho, e pasmem, Lazzo já não sai mais em blocos ou coisa parecida em Salvador, exatamente por ausência de espaços e horários decentes, para que o mundo veja o que aqui na Bahia se produz, por exemplo, no campo do Samba-Reggae.

Pelo Interior, a coisa parece que piorou. O exemplo mais próximo, é a cidade de Rio de Contas, que no passado, fazia o seu carnaval cultural mais ou menos nos moldes do carnaval do Recôncavo da Bahia, ou de Olinda. De forma absolutamente despropositada, promove o seu carnaval em desacordo ao que a cidade, em tese, representa para a história desse país, afinal, esse lugar beira os 300 anos de vida, se compondo de um belo Sítio Arqueológico e histórico com vários de seus casarios tombados pelo Patrimônio Histórico desse país.

E o carnaval…? Naquela Rio de Contas, o que se vê são paredões, por todo o sítio arqueológico, xixis aos borbotões, garrafas de cervejas aos montes espalhadas pela cidade. E o que dizer das bandas que são contratadas? Em total desacordo com a história do lugar, com suas letras sofríveis, onde só vê um refrão único que fala de bebedeira, arrochadeira, e dor de cotovelo, aquilo que se conhece de sofrência, com cantores também sofríveis em pleno carnaval de Rio de Contas. Músicas do carnaval, nada, nada, nada.

Ah, tem um palco alternativo, na Pça do Landim, que nem longe lembra a estrutura do palco da Praça principal, um palco pequeno com o som que precisaria ser melhor, mais potente, e que simplesmente deveria ser priorizado pela prefeitura.

Neste palco, ainda dá pra se vê, ouvir e dançar ao som das marchinhas que no passado de Rio de Contas, era o verdadeiro carnaval. Porque no palco principal da festa não poderia ser exatamente o das apresentações do Som da Banda de Sopro de Sêo-Rosalino, mas podendo ser Jeronimo, Banda Magnatas, Arlindo Polvithay, Jhon França, Bruno Caires, Ely Pinto, Marcia Short, Paro Ano Sai Milhó, Oliveira e seu Conjunto, Lazzo Matumbi, Embalo 4, Seca Gás, e outros, outros, e outros, nesse gênero?

Aqui, não se quer parar a história. Mas se faz necessário esse carnaval de Rio de Contas ser repensado. Nos parece que a gestão do município capitaneada pela sua secretaria de turismo poderia ou deveria buscar orientações junto ao governo do Estado, por exemplo, para reorientar esse carnaval. E, mais, é necessário que esses paredões sejam imediatamente reorganizados, com a intervenção do ministério público, assinarem um TAC, para por exemplo, ser escutado, ligado fora dos limites daquele sítio arqueológico municipal. A meu juizo, como está, não deveria. continuar…. sinceramente fui para esse carnaval, mas não fiquei, e acredito que muita gente também se frustrou com o que viu neste carnaval de 2023, pós-pandemia.

Me parece ser possível, essa cidade, e os movimentos que operam a cultura do lugar, repensar o que é possível fazer pelo carnaval de Rio de Contas. Será que esta lógica de uma festa de paredões, se configura como carnaval, ou ainda, o pouco som de sopros, ou um desfile apenas de baianas, será que vão sobreviver a este carnaval neste tempo de Inteligência Artificial?
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B-Joílson.
Pesquisador Independente do Afeto Negro no Brasil.


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