ARTIGO || Segurança e as políticas públicas (Padre Carlos)*

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Se o pacto é pela vida, por que os policiais baianos estão entre os que mais matam no Brasil? A Secretaria da Segurança Pública da Bahia ressalta que todo policial brasileiro, por lei, tem o direito de reagir a ataques de criminosos. Acrescenta que todas as mortes em confronto são acompanhadas pelas corregedorias.

Diante destes dados, venho tentando acompanhar as políticas públicas em relação à segurança no nosso estado e na nossa cidade por força de meu trabalho e porque nela vivo com as pessoas que amo.

Eu não faço favor algum em me preocupar com nosso estado de insegurança. Sendo um cidadão essa é minha obrigação. O cidadão tem o direito e o dever de saber o que se passa em sua volta. Mas, não me parece útil fixar na memória quantos homicídios já tivemos este ano em Vitória da Conquista se não pudermos entender as motivações para eles.

Não adianta nos intitularmos “policiólogos”, “politólogos” ou “cientistas políticos”. Pouco adianta dizermos que somos especialistas em segurança pública se nos contentamos com os números circunstanciais que pesquisas do governo federal trazem.

A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), coloca a Bahia na terceira posição no ranking de mortes por intervenções policiais, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 925 casos ao longo de 2016, e de São Paulo, com 856.

O que queremos é uma policia que atue na prevenção do crime. Precisamos que o bandido não entre em nossas casas. Sim, desejamos que ele seja preso após nos roubar. Mas, a prevenção ainda é a melhor política de segurança pública que se pode ter.

A Secretaria de Segurança da Bahia tem bons resultados com o programa “Pacto pela Vida”, a caravana da paz, caravana da vida, buscando aproximar a direção das instituições de segurança pública, tem ajudado bastante este trabalho.

Assim, não podemos ignorar, que o diálogo entre os poderes também é muito importante para que o Pacto aconteça. O mérito do projeto é entender que a construção da sociedade se dá de forma coletiva, e não de cima para baixo. O importante é investir em projetos de prevenção. Ao invés de esperar que o crime aconteça, a polícia da Bahia tem a obrigação de agir na perspectiva de impedir que ele ocorra.

De muito pouco adianta o discurso enfurecido da oposição, ao saber que mais um policial militar foi assassinado por bandidos. Isso não vai resolver nossos problemas. Pelo contrário, só aumenta à revolta e a desesperança.

Quando crimes brutais acontecem, como o assassinato do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, assassinado no ano passado por traficantes no bairro da Santa Cruz,  em Salvador, o que se espera das autoridades e dos agentes públicos é uma atitude sensata no sentido de se buscar, pelo menos, descobrir as motivações para o crime.

Aliás, esse é nosso grande problema. Só nos preocupamos com o crime pelo crime. Não queremos saber os motivos que concorrem para que ele aconteça. Só nos preocupamos em contar quantos caixas eletrônicos são, por mês, explodidos. Se realmente se quer acabar com esse tipo de crime, porque não se investiga quem está lucrando para que ele ocorra? O roubo aos caixas eletrônicos movimenta o comercio ilegal de explosivos e gera divisas para outros tipos de crimes.

A maioria dos crimes possuem motivações pragmáticas e objetivas. Claro, o crime visa, em geral, o lucro. O roubo de carros e motos serve para abastecer a “indústria” dos desmanches que por sua vez abastece as oficinas. Se você, caro leitor, não se perturba em saber que uma peça que está sendo colocada em seu carro tem procedência ilegal, saiba que está contribuindo para que o crime ocorra.

A regra é simples.  O carro é roubado e é repassado para o desmanche. Daí, as peças são atravessadas para oficinas cujos donos e clientes só pensam em maximizar ganhos e minimizar perdas, mesma que seja à custa da vida de alguém. Esse nosso jeito Macunaíma de ser ainda vai nos causar muitos danos.

Você se sente esperto demais por pagar menos da metade por um produto, mesmo que ele seja roubado? Se a resposta for sim, saiba que você contribui para o aumento da violência. O crime é uma empresa que visa o lucro e que age motivado por demandas.

Porque será que o assalto violento a residências é uma das modalidades de crimes que vem crescendo em todo o Brasil. Quem não se lembra da médica cardiologista que foi baleada durante uma troca de tiros entre polícia e assaltantes em um bairro nobre da nossa cidade.  A resposta é simples: muita gente se dispõe a comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos roubados, sem nota fiscal.

Daí que se preocupar em resolver o crime quando ele já aconteceu não deixa de ser a política de enxugar gelo. Certo. Quando os crimes brutais ocorrem, queremos ver seus autores atrás das grades. Mas, isso impede que novos crimes ocorram? O que impede que o crime aconteça são políticas públicas de segurança, interligadas com políticas públicas nas áreas de educação, saúde, moradia, etc.

E eu não estou falando dos assistencialismos de toda sorte. Eu não falo de coisas circunstanciais como mais armas, mais viaturas e mais presídios. Eu não falo de cada vez mais se usar mais a força.  Eu falo em pegar esta criança que está aí, agora, pedindo esmolas nos sinais das Avenidas de Vitória da Conquista e lhe dar cidadania.

Eu falo em pararmos de enxugar gelo. Eu falo em entendermos de uma vez por todas que cercas eletrificadas, grades fortificadas, ferozes cães e guardas armadas são apenas paliativos cada vez mais ineficazes. Eu falo mesmo em pararmos de fingir que não temos nada haver com esse estado de coisas. Está na hora de atentarmos para o calibre do perigo, de onde ele vem e, principalmente, porque ele vem.


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* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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