ARTIGO | Precisamos de uma missão (Padre Carlos)*

Padre Carlos* – Uma das coisas que mais chamava a minha atenção como teólogo e filósofo quando exercia o ministério sacerdotal, era a preocupação que boa parte dos meus antigos paroquianos começavam a ter sobre a velha questão do sentido da vida; da falta de fé e o medo da morte.

Estas reflexões levavam a certeza da nossa finitude e que nossas vidas precisavam ter um proposito, um sentido e mesmo se tratando de uma comunidade rural, começavam a ter consciência que era necessário dar um sentido, uma resposta a sua existência.

Quando a nossa fé nos interroga, devemos responder as estas questões não com o intelecto, com certeza teológica, mas com simplicidade e leveza da alma, na certeza que somos responsáveis por nossas vidas, como disse Santo Agostinho: temos livre arbítrio para escolher ou como disse Sartre: o homem está condenado a ser livre, mas, é também responsável por tudo que fizer. Desta forma, o homem se projeta para o mundo, sabendo das consequências que esta liberdade acarreta em suas existências.

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São estas reflexões que nos levam a certeza da nossa finitude mas, não de uma finitude qualquer, ela nos leva a busca de uma causa que represente o nosso sagrado, ou o nosso código de ética para que realmente tenha condições de representar algo que dê sentido à nossa existência e não um ser que simplesmente encerre a vida.

A certeza da nossa finitude, abre a discussão e põe o grande enigma em evidência: a morte, esta é assunto inevitável em uma abordagem, seja de caráter filosófico ou teológico. É preciso entendermos nossa vida é preciso dar sentido a nossa existência, ela carece de utopia já que a morte é inevitável.

Quando perdemos alguém especial, terminamos despedindo de uma parte de nós mesmo e temos que apreender a conviver com a saudade e as lembranças que ficaram, isto tudo é muito doloroso. Mas não podemos esquecer que a morte também tem sua dimensão pedagógica, ela existe para lembrarmos que morreremos um dia e por esta razão, não podemos ficar adiando nossas ações até o infinito. Se fossemos imortais, nunca teríamos a necessidade realizá-las logo.

Assim, a finitude, a temporalidade, não é apenas uma nota essencial da vida humana, ela é também constitutiva do seu sentido e está fundada em seu caráter irreversível. Daí, que só se pode entender a responsabilidade que o homem tem pela vida quando a referimos à temporalidade, à vida que só vive uma única vez. Como bem disse o poeta Vinicius:

“ Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida. A vida é pra valer. E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo que é bom. Ninguém vai me dizer que tem. ”

Nesta caminhada do meu presbitério, constatei que muitos fiéis após a perda de um ente querido, ficavam inseguros e sem saber se a sua vida ainda tinha algum sentido. O que importa numa situação como esta, é acreditar na sua capacidade de continuar vivendo, sabendo inclusive que parte do sentido da vida está, precisamente, em superar interiormente a infelicidade, em crescer com ela.

Nada há de mais apropriado para  vencer ou superar suas dificuldades do que ter a consciência de que tem uma missão a cumprir na vida.  Neste sentido, penso que minha missão é antes de tudo, está comprometido com a luta por Justiça no mundo, jamais me imaginei de mãos dadas com os fariseus – mesmo porque, bom que se diga, foram os que detinham e detém o poder político, econômico e religioso que mataram Jesus e hoje, em nossos dias, defendem em seu projeto de sociedade questões conservadoras que aprofundam mais e mais a pobreza e a injustiça.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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