ARTIGO | Porque estou no PT (Padre Carlos)*

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Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, desde início da década de 1980. Confesso que já tive vontade de deixar o partido e seguir o meu caminho, mas admito que não seja fácil assim. O PT foi uma das minhas universidades de formação política.
A experiência militante incorpora subjetividade, vínculos humanos, crença em valores, alegrias e dissabores, realizações e frustrações. Rupturas nos transformam, mas não apagam os registros da memória. Na vida real não temos o neutralizador dos Men in Black.

Nem é preciso, pois orgulho-me das minhas raízes e não me arrependo dos anos dedicados à militância petista. A minha geração aprendeu política na igreja (com a Teologia da Libertação), nos sindicatos e movimentos sociais. E tudo isso confluía para o PT!

Reconheço, porém, a contribuição da militância política partidária. Sou de uma época em que não podiam expressar-se livremente, tinha que viver na clandestinidade. Suas bandeiras não podiam ser desfraldadas, nem mesmo podiam identificar-se por suas indumentárias, etc.

Era uma questão de segurança, de sobrevivência, a integridade física e a vida estavam em risco. A ditadura civil-militar perdurava. Quando o PT surgiu, muitos deles aderiram. Com o tempo seriam convidados a sair ou foram sumariamente expulsos. Então, formaram seus próprios partidos. Outros permaneceram sob o biombo do MDB/PMDB. Dentro ou fora do PT, contribuíram para o processo de redemocratização do país.

Hoje, vivemos sob as ameaças e ataques constantes das forças fascistas.  Embora crítico da “democracia burguesa”, as forças da esquerda organizadas em partidos também foram os seus construtores e sabem o quanto são importantes os direitos e as liberdades democráticas.

Sob esta democracia puderam sair da clandestinidade, assumir ideologias, constituir organizações, disputar eleições e expor publicamente as suas ideias. Enfim, junto aos que lutaram contra a ditadura civil-militar, conquistaram o direito de desfraldar suas bandeiras vermelhas, fazê-las tremular nos ventos que anunciam utopias.

As críticas que sempre fiz ao partido sempre foram de razões ideológicas, quando observava que para quem se dizia democrático, participativas e tolerantes, expulsava Companheiras e Companheiros da sigla que tinham ideias divergentes e minoritárias, mas que sempre estiveram presentes nas greves, na organização, nas mobilizações, nas cotizações, nas panfletagens, etc.

Na contramão eram recebidos novos militantes, principalmente originários de outras siglas cujo compromisso com as lutas sociais até então fora zero, quando até alguns anos atrás nos combatiam abertamente, nos tachando de baderneiros, agitadores, subversivos, vermelhos, grevistas, etc.

Oportuno nesse particular, também lembrar que o Partido passa a eleger Prefeitos e Vereadores ainda em 1982, passando a se viver profunda dicotomia interna entre os que estavam nas estruturas de poder e os que estavam nas trincheiras.

Os mandatos foram sempre monocráticos, blindados, sem aceitação de critica e participação dos coletivos como são até hoje. Na escolha dos cargos sempre pesou o interesse dos que estavam diretamente ligados aos eleitos e não do conjunto, como podemos contatar com os cargos do governo do estado em Vitória da Conquista. As instâncias, convenção, diretórias e mesmo executivas eram ignoradas ou amaciadas.

Hoje, entendo o conflito que pairavam sobre a cabeça de Rosa, Gramsci e outros que tinham realmente criticas dura aos governos monocráticos de Lênin e Stálin, mas não foram irresponsáveis ao ponto de dividir a esquerda num momento crítico da história.

(Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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