ARTIGO | Pequenas Igrejas, grandes negócios.(Padre Carlos)*

As crenças e a fé dos brasileiros sempre deram origem a uma proliferação de empresas religiosas, fruto, talvez, do empreendedorismo e da criatividade da nossa gente em contextos de miséria humana e de desesperança. Hoje vemos que estas empresas da fé estão concentradas nas periferias das grandes cidades. Ou seja, espaços dominados por milícias e tráficos com fraca ou inexistente presença do Estado.
     

       A escolha de uma área não é deixada ao acaso, porque a localização destas organizações demonstra, desde logo, uma estratégia para conquistar parcelas deste público, que se encontra desamparada e assim, acabam por receber a esperança como produto. 


Estes comportamentos servem acima e tudo os interesses das bancadas evangélicas que transformam a fé das suas ovelhas em bases eleitorais. Ou seja, há um ciclo vicioso que traz mútuos ganhos para as empresas da fé e para os governos, sejam de esquerda ou direita.

            De fato, as empresas da fé precisam tanto de fiéis como os governos autoritários ou populares precisam de seguidores que não questionem nem se interessa por política. Demonstrando, assim, que a fé dos brasileiros tem servido, sobretudo, para encontrar um caminho para a salvação eterna individual, sem provocar qualquer ato de transformação política, remetendo muitos brasileiros para a condição de súdito de uma fé cega, ou de não sujeitos.
            
Os súditos da fé entregam-se a uma doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a , o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel. 

Desta forma, determinam que a única mudança deve ocorrer através da realização de milagres. Assim, quando um dos membros dessas comunidades consegue ser bem-sucedido o resultado acaba por ser apresentado como uma obra divina, não sendo dado qualquer crédito às suas capacidades humanas.

A realização humana de um súdito da fé é apresentada e celebrada como o fruto do seu investimento nos caminhos da fé. Tal dedicação religiosa acaba por conduzir a uma forma de aprisionamento e colocar os membros numa situação de incapacidade, afastando-os das lutas políticas e sociais com vista à construção de um bem-estar social coletivo.
  

Esta postura social de muitos brasileiros pode servir para explicar, o fenômeno da extrema direita, que persistem livres de quaisquer tipos de pressão social e política radical. 


Por isso, atualmente, os partidos, até os de matriz socialista, outrora críticos do obscurantismo religioso, aceitam e acolhem figuras religiosas na sua estrutura partidária. A cooptação dessas figuras religiosas permite exercer um controle das mentes e das ações populares de desestabilização buscado assim um enfraquecimento da própria democracia.

Portanto, este comportamento da população em geral, e da juventude em particular, pode ser explicado pelo impacto da fé que motiva uma paralisia mental e inércia social impedindo assim rupturas políticas. Ou seja, a proliferação da fé é um produto incentivado pelos regimes que, deste jeito, controlam os líderes empresariais da fé para evitar qualquer tipo de insubordinação política e social.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO

* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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