Não é nenhuma humilhação o artista, por decisão própria dele, seja qual for a sua linguagem, passar o chapéu em lugares públicos para angariar algum dinheiro para o seu sustento, mas é um grande desrespeito quando se trata de um secretário de Cultura mandar em público que ele faça isso para se virar, quando pouco faz para ajudar aqueles que produzem cultura para o povo.
É um atestado que o poder público não tem projetos para amparar e fortalecer a nossa cultura.
O próprio rei do baião passou o chapéu nas feiras de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, quando saiu do sertão para lançar suas cantorias e composições no sul.
Uma coisa, senhor secretário, é o artista se exibir nos metros de Londres, nas praças de Paris e em outros países europeus.
A outra é um secretário, ou ministro da Cultura mandar passar o chapéu. São atitudes diferentes.
Na Europa, muitos são de outros países que estão de passagem apresentando seus shows e espetáculos e estão até trabalhando de forma clandestina.
Mandar passar o chapéu nada mais é que uma humilhação nessa circunstância específica da fala do secretário.
Aliás, senhor secretário, muitos artistas estão atravessando uma situação tão difícil e carente que nem têm dinheiro para comprar um chapéu.
Já que a Secretaria quase nada oferece em termos de apoio à classe, e mandou que se passe o chapéu, posso ajudar fazendo uma doação para a pasta, pois possuo uma coleção de mais de 150 peças.
Pelo menos a Secretaria entraria com um chapéu para cada um. Como se trata de uma ofensa, creio que os músicos, malabaristas, atores e outros que lidam com a arte não vão aceitar esse desrespeito.
Por falar nisso, a OAB está entrando com uma ação judicial contra o desmonte da cultura no país praticado pelo governo federal. O mesmo poderia ser feito com relação a Vitória da Conquista, cuja Prefeitura Municipal abandonou a nossa cultura. |*Jeremias Macário, jornalista e escritor.