ARTIGO | Os fracos, doentes e idosos condenados à sua sorte (Padre Carlos)*

O Filósofo é o profissional responsável por estudar a natureza de todas as coisas e suas relações entre si, bem como a conduta e destino do homem.

Assim, avaliando a natureza humana, passei a entender como esta pandemia tem servido para mostrar como a teoria do filosofo Hobbes, estava correta: “ O homem é mau”, e devido esta maldade, não sabe viver em sociedade.

A crise provocada por este vírus vem revelando como nossa sociedade é perversa, principalmente com quem se encontra em uma situação de vulnerabilidade. Quando tomei conhecimento do levantamento feito pelo TCU, de que 3,9 milhões de pessoas das classes A e B conseguiram sacar o auxílio emergencial, procurei entender a natureza destas pessoas.

Estas gentes acham que têm direito, porque consideram que o dinheiro público não é de ninguém. Do ponto de vista moral e ético também não acham errado e ainda comemoram pelas redes sociais. Divulgam churrascos regados a cerveja ‘do auxílio emergencial’. Em momento algum pensam que tiram de quem precisa. O curioso é que todos eles dizem que são a favor do Estado mínimo e contra a corrupção.

Mas o que chama nossa atenção no que diz respeito a ética e a responsabilidade pública, são os crimes com as vendas dos ventiladores pulmonares.

Trata-se, possivelmente, do crime mais perverso cometido na história recente, no qual os representados, agem dissimuladamente para auferir ganho milionário aproveitando-se da situação de calamidade pública vivenciada pela contaminação humana pelo novo coronavírus, em detrimento da vida da população.

São comportamentos como este, que termina obrigando a nos posicionarmos como se estivéssemos em uma campanha eleitoral permanente. Não podemos esquecer que haverá sempre os que ganham com esta crise sanitária e outros que perdem.

Vivemos numa sociedade materialista, em que só há um deus – o dinheiro. Vivemos num mundo darwiniano, onde a seleção natural da espécie ou da evolução vai ficando cada vez mais explicita com este vírus, criando na sociedade uma luta pela sobrevivência: os ricos de um lado, os pobres do outro.

Os ricos com tudo o governo, o estado, as leis e os pobres com quase nada. Com a covid-19 o darwinismo acentuou-se: fracos, doentes e idosos condenados à sua sorte; jovens, capazes e saudáveis sobrevivem.

O mundo de uma hora para outra se tornou perigoso para se viver. O problema é que não temos para onde ir! Como posso sair deste Mundo e abraçar um melhor, se não vejo saída? Este perigo vem acompanhado de um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.

Um vazio que revela toda a nossa falta de humanidade, diante das mortes e sofrimento que passa o país. Mesmo assim, o papel do profissional da filosofia é chamar a atenção da sociedade para estes desvios éticos e apontar para um mundo mais justo, solidário, com doenças controladas, digno e que todos tenho direito a vida e a felicidade.

O medo continua, ele está na esquina, no trabalho na rua, pelas notícias do aumento do número de infetados. O medo torna as pessoas mesquinhas e irracionais. O que atualmente comanda as nossas vidas são as crises econômica e a sanitária. A covid-19 não só mata gente, mas também mata ideias de um mundo mais solidário, quando não a mata, desacredita-as.

Além de colocar à prova a forma como devemos enfrentar nossos medos, ela expõe toda a nossa falta de humanidade. Esta crise global de saúde pública, esta pandemia é um teste à natureza humana sobre a nossa dignidade. Como disse Kant: “O Homem é fim, e nunca meio ou instrumento; portanto, independentemente da sua maior ou menor utilidade, reclama um respeito incondicional”.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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