ARTIGO | O respeito ao trabalhador em tempos de pandemia

DÊ ATENÇÃO a esses profissionais!  – É fato: ao ver as mudanças no cenário político, econômico e produtivo, nos deparamos com um dos setores que mais cresceu, o de serviços, nos seus mais variados tipos, trazendo novos desafios em relação à produção e ao trabalho, trabalhos intermitentes, inclusive.

É crescente o número de trabalhadores envolvidos nestas tarefas, sejam elas voltadas para o grande público, sejam elas restritas a prestar serviços dentro de uma mesma estrutura de produção.

Até recentemente o mundo do trabalho era hegemonicamente dominado por paradigmas considerados como clássicos na produção industrial, como a Organização Científica do Trabalho proposta por Taylor e seus seguidores,  principalmente aquele conhecido como “serviços de massa”, foi baseada na importação dos mesmos paradigmas utilizados na produção industrial clássica, tais como a fragmentação dos processos e a simplificação das tarefas.

Resultados significativos foram obtidos: a racionalização de processos, a busca da homogeneidade dos serviços prestados, aumentos significativos de produtividade e o controle sobre a qualidade podem ser encontrados nas mais diversas empresas e instituições. 

Nesse particular, chamo a atenção de agentes nocivos à integridade física, químicos e biológicos desses profissionais, os trabalhadores de apoio que atuam em hospitais do Brasil, no setor público e privado.

Esses profissionais diariamente fazem seus procedimentos de limpeza nos hospitais preparam o ambiente para a realização das atividades cotidianas, limpando, removendo  microrganismos causadores de contaminação.

No geral  abrange a limpeza não apenas em seus aspectos técnicos, mais do que remover microrganismos causadores de doenças, a limpeza representa uma condição de nossa própria sobrevivência, dado que dela depende o nosso conforto e bem-estar, a fim de que a permanência nesse ambiente seja possível.

“Os trabalhadores da limpeza hospitalar, embora obedecendo a um processo de trabalho específico, no qual são escalados por setores, vivenciam a ambiência hospitalar como um todo, pois, com frequência, circulam por todos os espaços físicos no desempenho de suas funções. Embora ‘ambiência hospitalar’ tenha uma definição genérica pelo Ministério da Saúde, observa-se que existem distintos ambientes em um mesmo hospital. Circulando por todos ia ambientes, recebem os impactos não só daqueles considerados mais limpos, como o lactário, mas também daqueles mais contaminados e insalubres, como os isolamentos, expurgos e necrotério.

Nesses espaços, os trabalhadores da limpeza estão mais expostos, posto que, por seu ofício, são obrigados a entrar em contato direto com5 aquilo que há de mais insalubre em tais ambientes.”

Nesses lugares onde essas pessoas trabalham, certamente se compõem de muita dores, alegrias, abraços, perdas, entradas, saídas, olhares, afetos… A meu juízo, se alguém tiver a devida curiosidade para saber os reflexos do trabalho de limpeza na vida desses trabalhadores após um dia inteiro de trabalho numa unidade hospitalar, provavelmente ouviria algum relato laborativo parecido com esse que narro aqui -“

“Perguntei à (…) como ela se sente ao final do dia de trabalho, como fica o seu corpo. Disse que atualmente não sente muito, só aos sábados, devido às desinfecções terminais, [trabalho] que é mais exaustivo, sentindo dores no corpo ao final do dia. No início dos três primeiros meses de trabalho, sentia muita dor no corpo, mas que hoje já se acostumou.(…) disse o mesmo, apenas ressaltou que, por ter mais idade, sente-se muito cansada e com dores.” 

O fato é que uma doença não afeta apenas o paciente, mas muda a vida de todos nessa rotina diária. Essas pessoas acabam sofrendo mudanças em sua rotina e abalos psicológicos por conta da complexidade dessa ou daquela situação…. portanto, preste atenção nesses trabalhadores, dê atenção a esses trabalhadores…

*Joilson Bergher, professor de filosofia.


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