ARTIGO – O invejoso: por que algumas pessoas se vestem de rivalidade?

A inveja é um dos sentimentos mais destruidores e habituais de todo o mundo. A maioria das pessoas já sentiu o bichinho da inveja roer seu peito ao menos uma vez na vida e isto não faz delas bruxas más. No entanto, a inveja pode tornar-se nociva quando toma proporções patológicas. Para ilustrar basta lembrar-se de Abel e Caim. Movido pela inveja, Caim tornou-se o primeiro assassino da história do mundo, matando o próprio irmão.

Existem pessoas que necessitam de competição diária e fazem da rivalidade um distintivo. Esta rivalidade se manifesta de diversas maneiras. Pode ser vinculada à aparência física, às conquistas profissionais, à imagem social, à popularidade etc. O que importa destacar é que este comportamento é revelador e denuncia muito sobre estas pessoas.

1 – Baixa estima
Pode não parecer, mas pessoas que se ocupam frequentemente de disputar possuem a estima afetada. Existe uma necessidade, quase doentia, de se sobrepor ao outro, de se mostrar melhor. Ao fazer isto, fica claro que a pessoa não está segura de si, tampouco satisfeita com o próprio eu e precisa, a qualquer custo, de confirmação externa da qualidade de si mesma, da sua superioridade em relação ao outro.

2 – Voyeurismo social

De um modo sombrio, as pessoas que se vestem de rivalidade elegem um alguém e o vigiam. Fazem o que chamo de voyeurismo social. Rondam a vida deste alvo, de modo a identificar tudo que ele faz, lugares que frequenta, como vive, na tentativa de estabelecer sua vida em torno de uma cópia da vida do outro.

3 – Falta de criatividade
Há pouca ou quase nenhuma criatividade nestas pessoas. Observe que quem vive em torno de rivalidade costuma tentar fazer melhor o que vê os outros fazerem, deste modo, esta pessoa não possui a criatividade de elaborar sua própria vida em torno de gostos singulares e autênticos.

4 – Negatividade transbordante
A patologia desta inveja faz com que estas pessoas possuam uma negatividade que transborda e preenche tudo em torno de si. São as famosas pessoas “carregadas”, que desmotivam com uma palavra, que estragam o dia de uma pessoa com um comentário maldoso. Quem nunca se deparou com uma dessas? Estar perto delas provoca um intenso incômodo e mal estar.

5 – Infelicidade é de lei

Pessoas assim fingem ser felizes, ostentam falsa felicidade em torno de uma vida construída apenas para convencer os outros, mas o que as habita é um verdadeiro vazio. É lamentável, mas são pessoas ocas e com pouca motivação pessoal. Em resumo, são infelizes simulando felicidade. Contudo, elas provavelmente não sabem disso conscientemente e andam por aí se sentindo tristes e amarguradas, sem conseguir identificar as razões.

6 – Se vitimizam
Reclamação constante de um invejoso patológico é que ele é invejado, motivo ao qual ele atribui a sua sensação de tristeza e amargura. Quando alguém frequentemente falar que as pessoas têm inveja dele, sem haver motivo muito aparente para isso, desconfie que ali há um invejoso patológico. Essas pessoas possuem uma estranha capacidade de inverter os papeis e colocar-se como vítima, como objeto de inveja. Elas acreditam piamente que representam um modelo a ser seguido e que seus esforços as fizeram ser tão boas que as pessoas desejam ser como elas.

A inveja é um sentimento humano, como os demais. Ela existe dentro de todos nós e nem adianta usar discurso hipócrita de que não sente inveja, pois, enquanto humanos, estamos todos no mesmo barco e suscetíveis a todas as emoções existentes no mundo. O problema com a inveja é quando ela se torna uma patologia, uma motivação de viver. Não sei se estas pessoas conseguem perceber isso em si mesmas, ou se apenas passa batido, mas espero que elas possam notar e se libertar desta prisão. Afinal, viver a vida tentando superar as realizações de outra pessoa é uma verdadeira escravidão. Quanto aos demais, aos normais, só posso dizer: respirem fundo, mantenham distância e tenham paciência. De gente assim toda distância é pouca e gastar energia com confrontos é inútil, portanto, nada melhor que apenas seguir com a própria vida e não dar tanta importância. Ora, as coisas sem importância ficam perdidas na sua desimportância mesmo.

( Rândyna da Cunha nasceu em Brasília, Distrito Federal, em 1983. Graduada em Letras e Direito, trabalha como empregada pública e professora. Tem contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras, como Philos, Avessa e Subversa )


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