ARTIGO | O Iluminismo e seus inimigos (Padre Carlos)*

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A tentativa da Inglaterra de sair da União Europeia tem lavado a outros países a pensarem de forma individualista e as pessoas passam a falar com mais frequência de uma saída da França ou da Itália do Mercado Comum Europeu.
Esquece-se, assim, que a UE foi fundada, antes de tudo, para prevenir outra guerra. Foi a partir desse objetivo que os países se dedicaram a cultivar laços e fundaram um mercado comum e uma união política e monetária.

E esse projeto de cooperação foi extraordinariamente bem-sucedido. Esta cooperação trouxe o período de mais longa paz da História, e grande prosperidade. Não há lugar no mundo onde a vida seja melhor do que na Europa Ocidental. Diante de tais fatos, compete ao cientista e ao analista político tentar responder o que vem acontecendo no velho continente e em alguns países das Américas. 

O iluminismo, também conhecido como século das luzes e ilustração, foi um movimento intelectual e filosófico que dominou o mundo das ideias na Europa durante o século XVIII, “O Século da Filosofia”.


A grande questão hoje na cultura ocidental é a ressurreição do nacionalismo. O nacionalismo é parte integral da luta contra o Iluminismo. Com frequência, o nacionalismo radical começa a se tornar um protofascismo ou um fascismo de fato. Isto acontece desde o século XIX.

Há duas concepções de nação: a primeira define uma nação como um “conjunto de pessoas que vivem em um determinado território delimitado por certas fronteiras e obedecem ao mesmo governo”. Essa concepção da nação representou a tentativa heroica dos homens do Iluminismo de superar as resistências da História e da cultura e afirmar a autonomia dos indivíduos. A sociedade se forma como um agregado de indivíduos, os cidadãos.

Ao lado dessa visão iluminista há outra visão de nação como um corpo orgânico, onde o indivíduo não tem interesses antagonísticos entre si. Esta tradição compreende os indivíduos como presos à cultura nacional, baseada em uma língua e uma religião.

O que emerge daí é uma ideia de uma sociedade tribal, fortemente concentrada em um núcleo racial, ligado a igrejas e a um passado. Fala de uma democracia iliberal, o que é algo que não existe. A democracia é liberal, ou não é. O que esconde por trás dessa expressão é o fim da liberdade de expressão e da nação vista com uma comunidade de cidadãos, que podem definir os seus próprios destinos.

Fazendo esta abordagem e tentando chamar atenção para o que se passa no mundo e especialmente no Brasil. Não podemos negar a engenhosidade desta elite que chega ao poder, estamos presenciando a tentativa de destruição dos valores liberais sem tocar na economia liberal. Ataca-se, assim, a liberdade e os direitos humanos, sem fazer qualquer mudança na estrutura da economia capitalista.

O seu poder vem de apelos a tudo o que divide as pessoas, como a História, as culturas e a linguagem, em contraposição a tudo o que as une — suas condições como seres racionais, com direitos fundamentais.

O Estado, nas democracias liberais, existe para fazer as vidas dos indivíduos melhores e mais felizes. Conservadores liberais, socialistas liberais ou social-democratas entendem que os direitos sociais têm o objetivo de melhorar a vida das pessoas. A sociedade e o Estado não devem ter outro propósito senão melhorar a vida dos indivíduos e fazê-los mais felizes.

Neste sentido, podemos considerar que neoconservadorismo brasileiro não são conservadores de fato, mas revolucionários. Querem destruir as conquistas que tivemos ao longo do séc. passado, das conquistas trabalhistas da década de 1930 a constituição de 1988, tudo aquilo que a nossa democracia se propõem a oferecer e, substituindo a liberdade e a igualdade pelo nacionalismo, construir um mundo diferente.

Não querem tornar os indivíduos mais felizes, mas diferente da sua vertente europeia, que é nações mais poderosas, aqui nosso papel é vender as nossas riquezas, nos tornando submisso ao interesse do capital estrangeiro.

Não podemos esquecer que a grandeza do Iluminismo é a partir da premissa racional de que todos os indivíduos são iguais e tem os mesmos direitos sociais e políticos baseados na razão.

O atual governo representa a continuação da luta contra a filosofia do Iluminismo — e, com ela, contra o Estado de bem-estar social, contra a democracia e contra os valores da liberdade, da igualdade.

SOBRE O AUTOR E SEU CONTEÚDO

* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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