ARTIGO | O espírito de comunidade e a Covid-19 (Padre Carlos)*

Quando foi decretada a obrigatoriedade do uso da máscara facial de proteção para prevenir o avanço da Covid-19 no interior dos estabelecimentos comerciais e nos transportes públicos, passamos entender a importância destas medidas e o que é mais importante, passamos a ciar uma nova cultura.

Diante da gravidade do problema e com a intenção do prefeito de flexibilizar o decreto municipal é necessário determinar que todos os habitantes do município sejam obrigados a usar máscaras faciais quando saírem de casa e sempre que frequentar locais públicos.

A decisão de massificar a utilização das máscaras faciais tem que partir das autoridades, mas está  sendo quase um consenso  a adesão a este tipo de proteção, que antecede esta decisão política, que teve por base as pressões que os empresários desta cidade vem fazendo junto aos poderes público.

Estes atos, colocarão com certeza em risco a ´população de Vitória da Conquista. Não podemos fechar os olhos para o que vem acontecendo em Feira de Santana, a segunda maior cidade  da Bahia.

O que na verdade precisamos é criar na nossa cidade o espírito de comunidade inerente ao slogan que promove a ideia do uso massivo de máscaras: My mask protects you. Your mask protects me (A minha máscara protege-te. A tua máscara protege-me).

Num tempo em que, muitas vezes, o individualismo se sobrepõe, em que enfrentamos uma doença para a qual não existe tratamento ou vacina, mas que nos pode levar a temer e a rejeitar o próximo, esta ideia de que uma ação individual tem por fim proteger o outro e subjacente a ela tem a confiança de que o outro me protegerá a mim é uma afirmação cultural.

Esta nova realidade, em que usar máscara e manter o distanciamento, termina sendo para toda comunidade, um tempo de aceitação e de afirmação de cultura cívica.

O cumprimento das regras de confinamento e de distanciamento social, a utilização da máscara facial e o cuidado nas rotinas de higienização são sacrifícios que cada um faz, não apenas por si, mas pela comunidade, confiando que cada um dos membros desta zelará pela nossa segurança.

Além de colocar à prova a forma como a comunidade enfrenta e encontra formas de superar esta crise global de saúde pública, esta pandemia é um teste à natureza da própria comunidade, ou seja, de como os indivíduos interpretam a sua participação no que é comum.

Para vencer o alto grau de exposição ao vírus que o prefeito e o seu comitê estará impondo a nossa comunidade a partir de primeiro  de junho, temos como sociedade civil de educar a população de  tal forma que o uso de máscara precisa passar a ser entendido como um comportamento socialmente responsável, enquanto, pelo contrário, sair à rua ou usufruir do espaço público sem qualquer proteção tem que ser entendido como um comportamento antissocial, um desrespeito para com o outro que constitui um risco para a comunidade.

Este é o teste que a flexibilização do decreto nos traz e, para superá-lo, é necessário, primeiro, reconhecê-lo como tal e saber, depois, se estamos dispostos ao salto cívico que temos de dar para sermos uma comunidade e não, apenas, um conjunto de indivíduos.

Aceitar os imperativos desta realidade de proteção mútua num contexto de sociedades individualizadas e de baixa densidade social, é compreender que é preciso preocuparmo-nos com o outro, para que faça sentido ao outro preocupar-se conosco. Só há uma forma de superarmos uma crise desta natureza: juntos.     

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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