ARTIGO | O clericalismo e a Igreja (Padre Carlos)*

Por padre Carlos – Se olharmos nossa caminha nestas cinco décadas de Concílio, poderemos constatar que o cenário da Igreja permanece problemático. A figura do mundo também é perturbadora. A Igreja parece ter-se fechado na hierarquia, no mundo, na modernidade.

Ao fazer estes questionamentos, faço também uma homenagem a um grande teólogo que tive oportunidade de ser seu aluno, ao mestre: Pe. Alberto Antoniazzi.

Para iniciar uma abordagem eclesiológica, é necessário entender como o Mestre pensou a sua Igreja.

Jesus queria a Igreja enquanto povo de Deus, não uma Igreja instituição de poder e clerical, com duas classes: de um lado, a hierarquia, o clero, que ensina e que manda em nome de Deus, e, do outro, os leigos, os que obedecem.

Veja-se o significado da palavra leigo no linguajar comum: sou um “leigo”, com o sentido de incompetente, ignorante. Ou a expressão referida aos padres, quando lhes é retirado o ministério: “foi reduzido ao estado laical”, com o sentido implícito de ter perdido o privilégio de clérigo. 

Na Igreja, segundo Jesus, há ou deveria haver uma igualdade radical e, consequentemente, nela deve reinar a fraternidade, a igualdade e a liberdade. Evidentemente, uma vez que há muitos cristãos e católicos, terá de haver alguma organização, algo institucional, mas a instituição tem de estar ao serviço da Igreja povo de Deus, e não, sacralizar-se, dando a si mesmos atributos divinos.

Aliás, Jesus disse: “Eu vim não para ser servido, mas para servir.” Na Igreja, há serviços, ministérios.

O que aconteceu e acontece é que a hierarquia, padres e bispos, sacralizaram-se, atribuindo-se a si mesmos privilégios sacros ao serviço dos quais estaria o próprio celibato. Eles trazem Cristo a terra na Eucaristia, só eles perdoam os pecados, e formam uma espécie de casta à parte, como diz a própria palavra clero, são ministros, mas ministros sagrados.

O padre é alter Christus (outro Cristo). Isso foi de tal modo interiorizado no inconsciente dos católicos que existe constantemente o perigo de enveredarmos para o clericalismo, como diz o padre Stéphane Joulain, psicoterapeuta: “Considerar que, porque se foi ordenado, se tem direito a uma forma de reverência é um erro, de que alguns não hesitam em abusar. A cultura de um país, a sua história, desempenha um papel nisso: nos Estados Unidos, mas também na África, os leigos encontram-se numa grande submissão aos padres. Alguns fiéis, citados no relatório judicial da Pensilvânia, contam que, quando um padre os visitava, era como se o próprio Deus entrasse em casa.”.

Não podemos negar que o estado clerical adquire uma relevância de primeira ordem e apresenta-se, cada dia mais, como o verdadeiro ponto fraco da Igreja Católica.

Diante de tais fatos, podemos afirmar que a Igreja se encontra em uma das piores crises da sua história. Olhando para todos estes problemas que estamos enfrentando alguns teólogos levantam a tese de refunda-la, indo ao encontro do Evangelho.

Na linha da carta de Francisco, apelando à corresponsabilidade de todo o povo de Deus, penso que se deveria convocar um sínodo, com a representação dos bispos de todo o mundo, mas também da Cúria, dos padres, dos religiosos e das religiosas e dos leigos, eles e elas, proporcionalmente ao seu número, sob a presidência do Papa.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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Conteúdo integral conforme postado no blog: padrecarlospt.blogspot.com


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