Bolsonaro nunca foi tão impopular. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra a gestão assassina da pandemia, comandada pelo ex-capitão. Os protestos do último sábado aconteceram em mais de 200 cidades brasileiras e em outros países. A repercussão dos atos também extrapolou o território nacional e se espalhou pela imprensa internacional. Em meio às manifestações, Bolsonaro postou foto nas redes segurando uma camiseta onde se lê: “Imorrível, imbroxável, incomível”.
Mas a despeito da ironia sociopata de Bolsonaro no dia em que o Brasil bateu a triste marca de 460 mil mortes por Covid-19, há motivos para afirmar que os ventos estão mudando para o mito. Antes mesmo dos protestos, pesquisa Datafolha mostrou que pela primeira vez a parcela da população favorável ao impeachment de Bolsonaro é maior que a parcela da população contrária a seu afastamento. A aprovação ao governo do ex-capitão é a mais baixa de sua gestão, de 24% – enquanto 45% o rejeitam.
Tudo isso acontece no momento em que a CPI da Covid fragiliza ainda mais Bolsonaro. Não que seja novidade para alguém, mas a comissão reforça a enorme incompetência do governo na administração da maior crise sanitária do planeta.
Bolsonaro minimizou o impacto da pandemia. Recusou várias ofertas de vacina (ofertas comprovadas pela CPI) que teriam poupado milhares de vidas. Colocou um general despreparado no Ministério da Saúde. Defendeu o uso da cloroquina e do tratamento precoce. Debochou do uso de máscara e foi à Justiça contra o isolamento social.
Em paralelo, lidera o mais brutal processo de desmonte do Estado brasileiro de nossa história. Esse é o governo que queria um auxílio de apenas R$ 200 ao mesmo tempo que tira direitos, aprofunda o desemprego e destrói o mínimo de assistência que ainda temos. Não é apenas um governo negacionista e de morte, é o governo da fome!
É por isso que sábado foi um dia tão importante: a temperatura que vem das ruas é peça nova no jogo político dos novos tempos. A rejeição da população e a crise econômica na qual o país está mergulhado complicam a vida de Bolsonaro. Além disso, segundo especialistas, estamos perto de enfrentar uma terceira onda da pandemia. Ela chega em velocidade acelerada ao mesmo tempo em que o ritmo da vacinação é lento.
As pessoas que estavam em casa para ajudar a frear a contaminação foram empurradas para as ruas pela força do luto por seus mortos e pela desesperança no futuro. Não faltam motivos para protestar. E a população brasileira sabe disso. Milhares de pessoas ontem se arriscaram porque nesse momento Bolsonaro é mais perigoso que o vírus.
Não temos vacina (apenas 10% de vacinados com a segunda dose), a taxa de desemprego é histórica, voltamos para o mapa da fome, as ameaças de golpe são constantes. Derrotar Bolsonaro não é uma questão política, é uma questão de sobrevivência. Por isso, as próximas semanas são importantes para acompanharmos o movimento antibolsonarista nas ruas. | *Leandro Demori é editor executivo do The Intercept Brasil.