ARTIGO | Não basta vontade política (Padre Carlos)*

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A situação da candidatura Lula é tão complexa que é difícil decidir por onde começar uma vez que decidimos falar sobre ela. Talvez um começo seja lembrar que ela não está desconectada da situação internacional. Nem nunca foi.

Assim como o golpe de 2016 não pode ser entendido fora de um contexto internacional – a luta dos Estados Unidos e das empresas petrolífera, com um único objetivo de drenar nossas riquezas assumindo o controle das nossas reservas de petróleo. O mesmo deve ser dito da situação que vivemos agora com o golpe do judiciário sobre a vontade popular, tirando do povo, o direito de escolher o seu presidente.

O perigo agora para a direita é, a meu ver, a possibilidade de Lula, Haddad, Manuela e o PT chegarem mais uma vez ao poder, via voto popular, e implantar um projeto de esquerda. O fato do PT ter chegado ao poder, via voto popular, foi o fato que marcou a década passada, a primeira década do século 21. Este partido de esquerda não só chegou ao poder, mas implantou políticas sociais que modificaram a vida de milhões de pessoas.

 Acendeu-se uma nova luz vermelha. O que implicou um novo modo de combater esse novo tipo de ameaça. A lição que tiramos, no Brasil, dos anos de governo do PT é a de que a social-democracia, aquela praticada pelo PT, já é suficientemente perigosa e insuportável para a classe dominante brasileira, mesmo que esse “ensaio” de social-democracia estivesse ainda muito distante do que seria uma social- democracia de fato. A única social-democracia que a classe dominante brasileira pode suportar é aquela do PSDB, ou seja, um neo-liberalismo que tem a social-democracia apenas no nome.

Fiquemos no caso desta eleição, e do futuro governo do PT. Durante todo o seu mandato, Lula e Haddad terão que negociar os anéis para não perder os dedos. O que lhes renderão inúmeras críticas que virá dos seguimentos progressistas, seja de partidos da esquerda, seja simplesmente de cidadãos que por terem votado nos candidatos do PT esperam um governo 100% socialista. As pessoas são inocentes ao ponto de acreditarem que, após ter chegado ao poder, o PT poderá fazer o que quiser. E se não o fizer, é porque não quis. É o tal do mito voluntarista da “vontade política”.

Hoje já temos elementos suficientes para poder compreender que Lula não é nem nunca foi apenas um líder da esquerda brasileira. Enquanto tal, ele jamais teria chegado ao poder, jamais teria ganhado uma eleição presidencial. A esquerda não tem como chegar ao poder no Brasil, e mesmo que chegue, cai.

Lula chegou ao poder como um líder republicano e como tal ele governou. Ele chegou ao poder como um líder que transcendeu a esquerda e conseguiu negociar um acordo com a direita. Isso ficou já totalmente claro em sua primeira eleição – não só na famosa Carta aos Brasileiros – e foi só por isso que ele finalmente conseguiu vencê-la após três tentativas fracassadas. Foi só quando incluiu explicitamente à direita em sua candidatura que Lula pôde vencer a eleição presidencial.

Em outras palavras, ele continuou sendo um sindicalista enquanto presidente. Ele continuou sendo o representante da classe trabalhadora a negociar com os “patrões”. O fato de que ele era agora Presidente da República não o tornou um “patrão”. Ele continuou sendo Lula.

 (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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