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Imagens: Redes sociais/reprodução |
A Itália que conhecemos deixou de existir. Hoje, estamos diante de um país fortemente dividido, seduzido por uma agenda egoísta de forte tendência ao populismo.
Quando no pós-guerra, a Itália foi cooptada para a construção do projeto de unificação econômica da Europa, houve a clara consciência de que a unidade daquele país, não tão antiga quanto isso, muito dependeria de um sentimento nacionalista e de uma identidade de um todo para se tornar modelo agregador. Talvez nenhum outro País europeu mantivesse, no seu interior, diferenças regionais tão profundas e desiguais de desenvolvimento, acredito mesmo que até de mentalidades.
A fórmula constitucional que colocava os comunistas nos calcanhares dos socialistas e da democracia cristã criava esta engenharia política e os mecanismos regulares de acesso a uma sociedade de bem estar social e ao poder, com esse dualismo, a Itália vivenciou nos últimos cinquenta anos uma estabilidade política.
Porém, nos últimos anos esta composição política se revela esgotada e incapaz de sustentar, com legitimidade, a vontade coletiva dos italianos.
As Instituições, os poderes Executivo e Legislativo passam a enfrentar profundas desconfiança por parte da população, encontrando-se mergulhados em uma crise aguda de falta de credibilidade. Essa quebra de confiança nos políticos e nas instituições com certeza foram os elementos principais que levaram ao afloramento populista de uma “república de juízes” e, no aprofundamento de uma crise política e econômica que arrasta a Itália nos últimos anos.
Toda crise republicana se dar com o deslocamento do poder e o fortalecimento de um deles. Assim, se aproveitando deste acontecimento, a Itália passa a viver um caça as bruxas e os resultados políticos ao final da Operação foram DESASTROSOS.
A destruição do sistema político criado no pós-guerra, a partir da aliança do movimento político de Alcide de Gasperi com o Vaticano, responsável pela extraordinária e rápida recuperação da economia produtiva italiana, que se tornou a 5ª economia do mundo, abriu um VÁCUO de poder que quase leva ao esfacelamento da República, com o Norte (Lega Lombarda) tentando se separar do Sul, o que não conseguiu por pouco. O vazio de poder causado pela liquidação dos partidos políticos tradicionais abriu espaço para aventureiros fora do sistema político, muito piores que os tradicionais políticos.
Na Europa de seu tempo, Craxi chegou a ser conhecido por dar apoio a militantes perseguidos pelas ditaduras apoiadas pelos EUA no Velho Mundo, como o fascismo na Espanha e o salazarismo em Portugal – até o fim da vida seria elogiado por Mário Soares por essa atuação.
Acusado de aceitar favores e dinheiro clandestino de grandes empresas, Craxi exilou-se na Tunísia, onde morreu, em 2000. Craxi sempre assegurou que recebera verbas de campanha eleitoral, usadas desde sempre pela totalidade dos partidos políticos e questionava a visão de quem pretendia classificar a democracia italiana como um caso de polícia.
Infelizmente a economia da Itália foi destruída e sua intenção hoje fica clara. Agora, cabe ao leitor traçar um paralelo do que estamos passando e a sua semelhança com tudo que acontece e aconteceu nestes últimos anos no Brasil.
SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)
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