ARTIGO | A Itália e as suas “mãos limpas” (Padre Carlos)*

Imagens: Redes sociais/reprodução
A Itália que conhecemos deixou de existir. Hoje, estamos diante de um país fortemente dividido, seduzido por uma agenda egoísta de forte tendência ao populismo.

Quando no pós-guerra, a Itália foi cooptada para a construção do projeto de unificação econômica da Europa, houve a clara consciência de que a unidade daquele país, não tão antiga quanto isso, muito dependeria de um sentimento nacionalista e de uma identidade de um todo para se tornar modelo agregador. Talvez nenhum outro País europeu mantivesse, no seu interior, diferenças regionais tão profundas e desiguais de desenvolvimento, acredito mesmo que até de mentalidades.
  

          
A fórmula constitucional que colocava os comunistas nos calcanhares dos socialistas e da democracia cristã criava esta engenharia política e os mecanismos regulares de acesso a uma sociedade de bem estar social e ao poder, com esse dualismo, a Itália vivenciou nos últimos cinquenta anos uma estabilidade política. 


Porém, nos últimos anos esta composição política se revela esgotada e incapaz de sustentar, com legitimidade, a vontade coletiva dos italianos. 


As Instituições, os poderes Executivo e Legislativo passam a enfrentar profundas desconfiança por parte da população, encontrando-se mergulhados em uma crise aguda de falta de credibilidade. Essa quebra de confiança nos políticos e nas instituições  com certeza foram os elementos principais que levaram ao afloramento populista de uma “república de juízes” e, no aprofundamento de uma crise política e econômica que arrasta a Itália nos últimos anos. 

Toda crise republicana se dar com o deslocamento do poder e o fortalecimento de um deles. Assim, se aproveitando deste acontecimento, a Itália passa a viver um caça as bruxas e os resultados políticos ao final da Operação foram DESASTROSOS. 

A destruição do sistema político criado no pós-guerra, a partir da aliança do movimento político de Alcide de Gasperi com o Vaticano, responsável pela extraordinária e rápida recuperação da economia produtiva italiana, que se tornou a 5ª economia do mundo, abriu um VÁCUO de poder que quase leva ao esfacelamento da República, com o Norte (Lega Lombarda) tentando se separar do Sul, o que não conseguiu por pouco. O vazio de poder causado pela liquidação dos partidos políticos tradicionais abriu espaço para aventureiros fora do sistema político, muito piores que os tradicionais políticos.
           
O principal troféu político da operação foi à destruição da carreira do primeiro-ministro Bettino Craxi, do PS, que, ao assumir o posto, em 1983, tornou-se o primeiro chefe de governo italiano, em 40 anos, que não pertencia aos quadros da Democracia Cristã, partido que governou a Itália com apoio direto do Vaticano e de Washington.
  

Na Europa de seu tempo, Craxi chegou a ser conhecido por dar apoio a militantes perseguidos pelas ditaduras apoiadas pelos EUA no Velho Mundo, como o fascismo na Espanha e o salazarismo em Portugal – até o fim da vida seria elogiado por Mário Soares por essa atuação. 


Acusado de aceitar favores e dinheiro clandestino de grandes empresas, Craxi exilou-se na Tunísia, onde morreu, em 2000. Craxi sempre assegurou que recebera verbas de campanha eleitoral, usadas desde sempre pela totalidade dos partidos políticos e questionava a visão de quem pretendia classificar a democracia italiana como um caso de polícia.

Infelizmente a economia da Itália foi destruída e sua intenção hoje fica clara. Agora, cabe ao leitor traçar um paralelo do que estamos passando e a sua semelhança com tudo que acontece e aconteceu nestes últimos anos no Brasil.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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