ARTIGO | A infância na Pituba (Padre Carlos)*

Outro dia minha filha mais velha me perguntou, qual o espaço de tempo e contexto que poderíamos definir uma geração? Naquele momento pensei na minha infância e respondi com se tivesse retornado ao passado e visitasse minhas lembranças.

Ela pode ser definida como um grupo de indivíduos nascidos na mesma época, influenciados por um contexto histórico e que viveram experiências semelhantes. Assim, poderia dizer para você que minha geração possuiu características que estão diretamente ligadas aos nossos comportamentos, costumes e valores.

Para entendermos melhor esta geração é importante que façamos uma viagem no tempo. Esta turma que nasceu nos anos cinquenta e sessenta, tiveram a oportunidade de vivenciar uma infância sem muros e para entender o comportamento desta juventude, teríamos que entender primeiro sua infância em todos os seus aspectos.

Foi justamente nesta hora que fazia a explanação, que minha caçula reclamou: papai aqui não tem internet, não tem Netflix, eu quero ir embora! Estávamos no sítio para passar um feriado prolongado com a família. Então voltei a pensar no que estava falando com a mais velha e me questionei. Como conseguimos viver sem celular e todas estas tecnologias na minha infância?

Assim falei para ela. No tempo que seu pai era criança, andávamos de bicicleta pelas ruas da Pituba, bebíamos água na fonte da Luz, com as mãos mesmo, direto da nascente. Achávamos que era água mineral e não ligávamos se era ou não filtrada.

E quando asfaltaram o bairro que papai morava, começamos a construir nossos carrinhos de rolimã, testávamos nossas máquinas em alta velocidade pela ladeira da rua Rio de Janeiro e usávamos os nossos sapatos como freio. A melhor máquina era sempre o de Juranda, que conseguia as peças na loja do pai.

Nunca aconteceu quaisquer desastre e brincávamos o dia todo.

A Pituba era um lugar tranquilo, passávamos boa parte do dia na rua até escurecer, meus amigos eram gordinho e bicudo, todo mundo tinha apelido e não era bullying. Onde estava menino? Na casa do: Sr. Jalpery, Filinho, Valdomiro ou vendo televisão na casa de Dona Tudinha etc. Acreditavam na gente e não havia maldade naquela época. Tínhamos aulas pela manhã na escola das freiras e íamos almoçar em casa, levávamos a nossa merenda feita em casa.

Dividíamos com nossos amigos aquele ki-suco ou suco caseiro, comprávamos pão no armazém Popular e na boate de Aurino. Entendeu Laura? Nada de videogames, computadores, celulares ou outros brinquedos eletrônicos, só amigos! Eramos felizes sem esta parafernália eletrônicas.

Íamos para escola a pé ou de bicicleta não havia necessidade de os pais levarem e nem existia van escolar. Na escola da Irmã Catarina, não havia maus alunos, tinha sim, uma palmatória para quem não soubesse a tabuada ou não fizesse o dever.  

Jogávamos bola e nosso time chamava Pitubinha, só tinha craque: Juta, Betinho e Renatinho, era uma seleção, por isto Pitubinha tinha as cores da seleção brasileira, se não fôssemos escalados para jogar simplesmente passávamos a ser torcedores.

Hoje temos mais de cinquenta anos e acreditamos ainda no amor que há em uma grande amizade:
é  ela que animou o nosso coração e encheu estes anos  as nossas vidas. de alegria. Nossa geração sabe o valor que há em uma grande amizade. Mesmo distante e espalhados pelos quatro cantos do mundo, aquela geração da Pituba se sente unida.

Vivemos mais que tempo mais do que as palavras podem dizer, porque na nossa infância fizemos grande amizade e com certeza foi um milagre que partilhamos mesmo sem perceber para nossos filhos e netos. São as lembranças destes milagres que abençoa os dias que nos restam de vida.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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