ARTIGO | Esta saudade não cabe no meu coração (Padre Carlos)*

É impressionante como as lembranças da minha infância e da minha juventude tem povoado os meus pensamentos nestes últimos dias e com isto, despertados sentimentos que a muito não experimentava.

Às vezes eu encontro no meu dia a dia com coisas que me possibilita viajar de volta a Pituba ou ao Nordeste de Amaralina, a minha infância ou juventude.

A saudade é um sentimento muito presente na minha vida, sinto através do cheiro da brisa do mar, do gosto da acarajé, de uma foto antiga do clube português, da  praça Nossa Senhora da Luz ou da fundação do Partido dos Trabalhadores, às vezes me deparo com alguma coisa que me faz recordar bons momentos já vividos em Taizé ou em Bolo Horizonte no período da teologia.

O engraçado disto tudo é a ilusão de que foi ontem e pode ser retomado todas estas vidas, do momento que foi interrompida. Quando o poeta diz:

“Não se admire se um dia Um beija flor invadir a porta da tua casa Te der um beijo e partir Foi eu que mandei um beijo Que é pra matar meu desejo Faz tempo que não te vejo Ai que saudade d’você ”. 

Hoje eu implorei ao beija-flor que levasse até você um pouco da minha saudade, que com suas asas magicas e invisíveis abraçasse você por mim. Mesmo com a presença desta amiga, tenho a certeza que a felicidade não é tão ausente quanto imaginávamos e que não é tão difícil espantar a tristeza através dela. 

Tem dias que fico pensativo, sem saber se valeu a pena passar por toda dificuldade que encontrei durante esta trajetória, aí escuto o poeta: “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor”.  

           

Assim, quando achava que minha vida não tinha sentido, ou achando que a alegria não estava mais no presente, parava um pouco e lembrava-me dos sorrisos que já foram dados, dos abraços de felicidade, e de todas as dificuldades já superadas. 

Eu sei que todo mundo passa por períodos complicados, e quando este chegou, confrontei com as alegrias e conquistas que me fizeram acreditar que era possível vencer as dores e perdas da caminhada. Desta forma, abracei as boas lembranças e fiz da saudade uma forma de catalogar toda felicidade vivida nesta vida.

Mas, a vida segue, o carrossel não para e o peregrino continua andando por caminhos diferentes, e quem sabe os querubins  ou algum anjo de plantão não convença há Deus deixar ainda nesta vida  cruzar com os amigos da infância na Pituba, do grupo de jovens, da CVX, da fundação do PT e do seminário de filosofia e teologia, como seria lindo reencontrar com  eles e construir novas histórias.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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Conteúdo integral conforme postado no blog: https://padrecarlosrps.blogspot.com  


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