Parece mentira, mas não é. Eu vi e testemunhei com meus próprios olhos porque fui uma das vítimas. Como não recebo mais meu boleto (há dois anos) em minha residência, fui hoje à Secretaria de Finanças pegar meu IPTU e fiquei estarrecido com tanta gente para pouco atendimento.
Para começar, esperei quase três horas, isso mesmo, para o painel sinalizar o aquele “plim” da minha senha IPO75. Ficou em minha memória de tanto olhar para a tela. Só havia dois caixas preferenciais, segundo a portaria, para entrega dos carnês. Vi idosos agoniados e atordoados, capengando de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Do barulho infernal de tanta gente, veio-me à cabeça aquelas cenas dantescas de Dante Alighieri, ou o livro “Inferno”, de Dan Brown. Em nosso Brasil existem as camadas terríveis de sofrimentos até o indivíduo atingir as profundezas mais quentes e dolorosas das torturas.
O mais incrível é que nosso povo passa por todas elas (camadas) sem reclamar, sem se indignar, sem protestar, diferente dos franceses, dos israelenses, dos ingleses e até dos nossos vizinhos hermanos da Argentina, Colômbia e do Chile que saem às ruas em multidões e chegam a derrubar ministros e governos. Pensei comigo que a nossa democracia é indolente e feita de esmolas.
Como se não bastasse tudo isso de estresse e falta de respeito, de quase três horas de espera, levei ainda um susto com o aumento escorchante do imposto, de mais de 100 reais em relação ao do ano passado, um índice bem acima da inflação, de pouco mais de 10%.
Verdadeiramente, não somos considerados cidadãos e sim, peças de manipulação dessa política do roubo e da corrupção do voto eleitoreiro alienado. Como não me revoltar, se as autoridades (Câmara, OAB, Ministério Público, Defensoria, magistrados e outras entidades) não nos representam? Muito pelo contrário!
O trabalhador incansável, que derrama seu suor e sangue durante toda sua vida, com seriedade e honestidade, não tem valor neste país da democracia das esmolas, da impunidade e do assistencialismo do cala boca que transforma a pessoa em apenas num número invisível.
Alguém pode estar aí achando estranho quando falo em democracia das esmolas e até dizendo que estou agindo com incoerência em relação aos meus princípios socialistas. Respondo que ser socialista não é concordar com este Estado Assistencialista que procura sempre deixar nossa gente na ignorância e no comodismo.
Existem aqui em Vitória da Conquista e em quase todas as cidades brasileiras os chamados andarilhos de rua que recebem abrigos em todas as cidades por onde chegam, com dormida e uma boa comida, muitos dos quais rejeitam qualquer oferta de trabalho e emprego de empresas que abrem colocações.
Quase todos ainda recebem o Bolsa Família e gastam em farras. Muitos deles deixaram suas famílias para viver assim. Não pagam luz, água, IPTU ou outro imposto e são bem acolhidos e tratados. Não podem ser aborrecidos e, qualquer coisa, falam palavrões e desaforos para funcionários que os recebem.
Não estou condenando o amparo aos mais necessitados, principalmente os que vivem na miséria e pobreza nos casebres e favelas passando fome, mas desses aproveitadores e oportunistas que recusam trabalhar e preferem viver assim porque têm prioridade total, inclusive no atendimento numa UPA, num posto de saúde ou hospital.
O assistencialismo eleitoreiro só faz alimentar o ócio e vicia o cidadão, como dizia Luiz Gonzaga, nosso rei do baião. Enquanto isso, os outros pobres que dão um duro danado para pagar as coisas e tentar viver com certa dignidade, são humilhados nas repartições públicas, como na Secretaria de Finanças de Conquista. É por essas e outros que digo que no Brasil existe uma democracia das esmolas. |
*Jeremias Macário é jornalista, escritor e compositor.
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