ARTIGO ESPECIAL | E se fosse ao contrário? (Jeremias Macário)*

Imagem: reprodução/divulgação

Lembram do episódio ocorrido semana passada em São Conrado, no Rio de Janeiro, onde uma mulher mordeu outra e avançou com cólera, com a coleira do seu cachorro, para espancar a chibatas (lembra os tempos da escravidão) um rapaz negro entregador? Até agora não deu nada em termos de punição para a agressora. Depois de dias, somente ontem se apresentou na delegacia.
Vendo aquelas cenas horríveis de uma pessoa descontrolada e raivosa fiquei a imaginar: E se fosse ao contrário em que o moço batesse na mulher? Com certeza, o caso teria maior repercussão na mídia e o cara estaria preso, principalmente porque se tratava de uma violência contra uma mulher.

O advogado arranjou um atestado médico (coisa vergonhosa e mais que duvidosa) que carece de maior investigação contra esse profissional da saúde. Está mais do que sabido que essa nossa sociedade é hipócrita, contraditória e paradoxal. Ela carrega consigo o DNA dos monstros e fantasmas em seu ventre.

Justiça deve ser justiça, mas ela no Brasil sempre foi cega e tardia. Mais uma vez, não me venham com essa de que todos são iguais perante a lei. É a maior mentira que essa lei constitucional e penal nos prega. Como umas das provas estão aí as “condenações” da Operação Lava Jato.

Os arquivos foram engavetados e todos considerados inocentes. A Operação não passou de mais uma mentira. Diziam na época que dessa vez o país iria entrar nos eixos. O que existe mesmo no Brasil é a lei da impunidade onde os ricos e poderosos sempre se safam e os pobres vão para a cadeia, quando não são executados a sangue-frio pela polícia.

Não estou aqui, de forma alguma, defendendo que o homem bata na mulher, mas está chegando ao ponto em que ela pode até dar chibatas no homem e ele não pode revidar. Toda ação tem uma reação. As imagens são bem claras, mas a delegada ainda está investigando, ouvindo testemunhas e analisando. É hilário e ridículo!

Por falar em ridículo e contraditório, a novela das seis da Rede Globo “Amor Perfeito” está fazendo esse papel para agradar e fazer média (audiência) com os movimentos negros, mostrando um cenário que não era real naquela década de 1940 onde o racismo era bem mais nítido e escancarado.

A novela coloca negros em posição de destaque, como médicos, advogados, engenheiros e ainda a classe mais baixa frequentando eventos, salões, restaurantes e hotéis de luxos, quando isso não correspondia com a realidade. Brancos namorando e se casando com negros sem nenhum olhar racista da sociedade burguesa.

Aqui no Brasil criou-se um clima de animosidade e extremismo alarmante entre classes, cor da pele e gênero quando não deveríamos nem estar mais falando nisso. Não estou mais me referindo sobre a atitude horrível da mulher que ficou bem claro seu ódio racista e menosprezo pelos mais pobres.

No entanto, existem outros fatos que carecem de racionalidade e ponderação quanto o que é mesmo racismo ou não. É que um assunto puxa o outro. Qualquer olhar, aproximação, maneira de falar ou ação, logo a pessoa está sendo enquadrada como injúria racial sujeito às penalidades da lei e até a indenizações. O mesmo ocorre com o tal do assédio moral e sexual.

Tenha cuidado no que vai falar. Tem que medir as palavras, senão você será enquadrado. Até no modo de olhar você pode ser chamado a dar depoimento numa delegacia. Numa entrevista de trabalho entre um branco e um preto, se este último for eliminado do teste, sai logo dizendo que foi racismo, quando não é bem assim.

O mesmo está acontecendo com o assédio moral onde um chefe sente até medo de exigir mais empenho do subordinado. É outra questão muito subjetiva que precisa ser melhor analisada antes que a outra pessoa seja vilipendiada, ultrajada e até sentenciada antes de ser julgada como assediador. Quando cai na mídia, meu amigo, não há mais jeito de reparar os danos.

Falo aqui também do assédio sexual, que deve ser condenado sob todas as hipóteses. No entanto, pergunto se só existe assédio sexual quando é contra a mulher. Muitos homens hoje são assediados e se sentem constrangidos por determinadas mulheres, mas o sujeito vai a uma delegacia para denunciar? Com certeza ele vai ser levado em deboche e vão duvidar da masculinidade dele.

Em muitos casos está existindo muita injustiça como as coisas estão sendo postas e termina se criando um distanciamento entre as pessoas e ativando mais a intolerância. São essas contradições e paradoxos que necessitam ser corrigidos. Como as redes sociais hoje têm uma velocidade enorme, tudo termina sendo considerado racismo, machismo, homofobias e assédios. O sujeito pode até ser linchado moralmente sem ter cometido o “pecado”.

Quem se lembra do caso da Escola de Base, em São Paulo, onde uma família foi toda destruída por ser acusada de pedofilia no estabelecimento de ensino? Portanto, está se criando um ambiente de animosidades e separações absurdas na sociedade num simples gesto e atitude, sem a intenção de discriminar o outro. Tudo agora virou preconceito, desder uma opinião mal interpretada. | *Jeremias Macário é jornalista, escritor e compositor.

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