Por Márcio Higino* – Das conversas que sempre mantinha com meu estimado amigo Saul Venâncio de Quadros, hoje já retornado à Pátria Espiritual, lembro-me bem acerca das suas sábias considerações sobre o capitalismo e suas perversidades, ele, que possuía na sua bem formada alma uma enorme sensibilidade social e humana.
Afirmava sempre: ” o capitalismo é um gigante. Já faz algum tempo que claudica perigosamente. Ocorre que a queda de um gigante abala todas as estruturas sociais, políticas e econômicas vigentes “. Pura verdade. É o que se observa atualmente, independente dos efeitos da pandemia da Covid-19.
Percebe-se um notório esgotamento das possibilidades oferecidas pelo capitalismo, que nunca foram generosas para a humana gente, como um sistema em que predomina a propriedade privada e a busca constante e alucinada pelo lucro e pela acumulação de capital, já que não disponibiliza à sociedade contemporânea mecanismos que possam estabelecer equilíbrio econômico e social, alimentando e agravando as desigualdades sociais.
Assim, nota-se desigual relação entre capital e trabalho, aliada às graves questões ambientais, resultantes do modo capitalista de produção, com expressivas perdas dos valores humanos.
No livro O Horror Econômico, a autora Viviane Forrester expressa a angústia da exclusão pela ótica dos desempregados. A partir da análise do desemprego e das práticas econômicas vigentes, admite o desaparecimento das principais categorias de inserção social do homem moderno, a saber: o trabalho e o emprego.
Ainda recentemente, o articulista Roberto Moraes, em artigo no prestigiado blog Brasil247 questiona: por que o capitalismo contemporâneo não consegue mais criar trabalho?
Discorre o seu texto pelos vários estágios operacionais de atuação do capitalismo, desde quando empurrava a expansão colonial pelo mundo, passando pelo feudalismo e a escravidão, que nos levaram aos conflitos e às guerras.
Apesar da tão propalada modernidade e o advento das sofisticadas tecnologias, o capitalismo, hoje sob a hegemonia financeira, passou a explorar mais, com a enorme oferta de crédito, que precisa ser desovado, transformando a dívida daí resultante em motor de exploração.
A queda do gigante anuncia uma transição. E todos sabemos que não existe transição sem abalos e sem choques. Que esse novo momento traga mais humanidade. Traga mais solidariedade.
O Sudoeste Digital reserva este espaço para os leitores. Envie sua colaboração para o E-mail: [email protected], com nome e profissão.