ARTIGO DE DOMINGO | Ex-prefeito não teve estofo intelectual e nem moralidade política para ter nome em logradouros *(por Herberson Sonkha)

A tentativa de anular uma pessoa (ou seu grupo social) apagando literalmente todos os vestígios históricos confiado no mandato para invisibilizar as ações perante a sociedade, foi um fiasco. Sabe aquela expressão corriqueira de quem bate baba no final de semana e feriado, “atacante ruim, o vento marca”? Pois é, caindo das pernas, a investida bajuladora da vereadora situacionista não durou nem o primeiro round. 

Ao invés de construir sua própria história, pessoas ineptas se apropriam amoralmente da história alheia, mudando de modo estelionatário o nome dos verdadeiros autores. Essa gente decrépita deveria saber que não se altera o curso dos acontecimentos, adulterando nomes, rescrevendo o passado e recorrendo a projetos de leis para entrar para os anais da história como heróis. 

Por isso, corre a boca miúda pelos quatro cantos do município que o Terminal da Lauro de Freitas após a reforma passará a se chamar de Estação de Transbordo Herzem Gusmão. Espero que essa imoralidade tenha o mesmo destino da primeira tentativa frustrada da situação que deu com os burros n’água com a proposta de alterar o nome do Conquista Criança. 

A autora do projeto e a bancada situacionista recuaram às pressas do projeto de lei que tinha a finalidade de alterar o nome da Escola Municipal Conquista Criança para Centro de Educação Integrada Herzem Gusmão Pereira. No que pese as críticas, o Conquista Criança, criado e mantido pelo ex-prefeito Guilherme Menezes em 1999 e preservado pelos governos do professor José Raimundo Fontes, cumpriu seu papel. 

Verdade seja dita, se tornou o carro chefe das políticas sociais dos governos do Partido dos Trabalhadores, considerado o programa mais laureado nos 20 anos consecutivos de gestões petistas. O Ministério da Previdência e Assistência Social concedeu o Prêmio Brasil Criança Cidadã (1998, 1999, 2000…), prêmio prefeito criança da Abrinq, recebeu do Unicef e Conasens o Prêmio Município Amigo da Criança.

Neste contexto, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista por meio da bancada de situação acolheu as duas discussões de projeto de lei com a finalidade de alteração de nomes de uma instituição socioeducativa e um logradouro que simboliza a quebra do monopólio e o fim das imoralidades no transporte público interurbano do município no final da década de 90 do século XX. Ambos são espaços importantes da cidade pelo histórico que eles têm. 

O primeiro propôs modificar o programa Conquista Criança com o nome de Herzem Gusmão Pereira, àquele que simplesmente abandonou a escola do município, deixando-a à própria sorte para depreciar a bem-sucedida política social de seus adversários. 

A bancada de oposição formada em sua maioria pelo Partido dos Trabalhadores se posicionou imediatamente contra esse projeto de lei imoral. A autora dessa excrescência política se resignou a sua insignificante propositura política, retirando rapidamente a proposta indecorosa para evitar ser esbofeteada verbalmente (ainda mais) pelos implacáveis edis opositores.

Não faz nenhum sentido defender o indefensável, pois qualquer que seja a homenagem ao ex-prefeito Herzem Gusmão vinculando o seu nome a uma histórica instituição socioeducativa ou ao mais movimentado espaço de translado de ônibus interurbano da cidade, espaço simbólico da luta política pela quebra do monopólio do transporte público controlado pelo grupo econômico de empresários que financiavam o ex-prefeito José Pedral Sampaio. 

Estes dois espaços públicos são resultados efetivos de intervenção social do programa de governo petista, por isso têm relevantes serviços prestados à sociedade conquistense, alterá-lo configura desonestidade intelectual e moral. Alterar o nome da bem sucedida Escola Municipal Conquista Criança para Centro de Educação Integrada Herzem Gusmão Pereira, visando escamotear o ocaso meteórico do Sr. Herzem Gusmão, é ignorar uma gestão que nunca respeitou saúde, educação e desenvolvimento social. Isto é desonestidade. 

Aliás, Herzem Gusmão cortou recurso, retirou funcionários e deixou a escola municipal jogada às traças. Vale a pena ressaltar que aquele lugar no passado recente já transformou a vida de crianças condenadas ao degredo pelas múltiplas situações vulnerabilidades e sem moradia, em promissores profissionais, músicos, desportistas e artistas reconhecidos dentro e fora de Vitória da Conquista. 

O anteprojeto foi um natimorto por isso nem entrou em votação porque a oposição estraçalhou essa proposta por considera-la um acinte. Não só concordo com a coerente arguição da bancada de oposição como vou mais além, analisando essa situação desses edis situacionistas de “paixão” ao algoz como um possível quadro de Síndrome de Estocolmo. É verdade! Esse comportamento que altera a psique humana, decorre da prática recorrente de sujeição a intimidações, medos, tensões e agressões que a exercer na vitima um comportamento de empatia e sentimento de amor e amizade pelo agressor. 

A bancada de oposição venceu a síndrome de Estocolmo da autora desse projeto e merece da população todo o respeito e a consideração. 

O Blog do Sena deu a notícia incialmente, imediatamente depois um dos sites de notícias mais lidos da cidade, o Sudoeste Digital, veiculou matéria em 31/03/2021, intitulada “Vereadora desiste de projeto nominava de Herzem Gusmão o projeto Conquista Criança“, em que chama a atenção da população para o fato de que “(…) o programa não recebeu a atenção devida durante a gestão do prefeito Herzem Gusmão (MDB), tornando contraditória a mudança. Para piorar, educação municipal foi um dos maiores gargalos da gestão do prefeito (…)”. 

Mas, outro anteprojeto desonesto, não menos imoral que este, se não entrou ainda na pauta de discussão deverá entrar em breve, que é a alteração da atual nominação do Terminal da Lauro de Freitas para Estação de Transbordo Herzem Gusmão. Espera-se que a oposição se paute pelos mesmos motivos éticos que levou a oposição desqualificar a ideia desonesta de alterar o nome da Escola Municipal Conquista Criança. 

Não adiantada reformar escola entregando a comunidade paredes pintadas, portas novas, telhados novos, cadeiras ergonometrias, quadro de giz e piso ladrilhado sem cumprir minimamente a política do piso nacional para profissionais da educação, investir na política pedagógica, faltar merenda escolar e transporte. 

A escola como espaço coletivo de ensino-aprendizagem que transforma vidas humanas, não pode prescindir do papel pedágio que liberta. Isso só é possível se for assegurado um conjunto de ações, programas, políticas sociais e investimentos indispensáveis para operacionalização da Escola Municipal Conquista Criança. 

Sem esse compromisso ideopolítico transformador, que foi covardemente interrompido pelo ex-prefeito Herzem Gusmão, dificilmente essa escola continuaria cumprindo seu papel histórico de transforma a vida e rescrever a história de crianças em sua maioria absoluta negras vivendo em situação de risco social, econômico, cultural e político, cujo destino voltou a ser selado pelo tráfico ou pela própria polícia no extermínio da juventude negra. 

Se a educação, saúde e desenvolvimento social foram os maiores gargalos da gestão do ex-prefeito, a destruição do Sistema Municipal de Transporte Público não foge a essa dinâmica destrutiva. Isso não é diferente do Terminal da Lauro de Freitas que apesar da reforma que dará outros ares ao espaço que gritava por uma reforma e ampliação, não se pode ignorar a criminalização dos ambulantes e o destroço do Sistema Municipal de Transporte Público.

O desmonte do SMTP favorece o transporte clandestinos de vans e empresas sucateada, que oferece aos usuários do transporte público uma frota ultrapassada, ônibus caindo aos pedaços e com irregularidades junto ao INSS e outras políticas fiscais. 

O ex-prefeito Herzem Gusmão quebrou a Cidade Verde, promoveu demissão em massa de trabalhadores do setor de transporte, apenas para favorecer a chegada de empresas com péssima reputação profissional e passivos trabalhistas inaceitáveis. 

Fez vistas grossas a circulação de vans clandestinas, descumprindo os artigos 13 e 15 da lei nº 968/99. A cidade não consegue atender minimamente a regularidade, assiduidade, qualidade, eficiência e cumprimento de horário, imperando a lei da selva, salve-se quem puder.  A bancada de situação quer por capricho apagar a memória coletiva da cidade da luta pela quebra do monopólio do transporte e aumentar o retrocesso do transporte público do município aos tempos longínquos das “catanicas”. 

E isso que significa modificar o nome do Terminal de ônibus para a pomposa Estação de Transbordo Herzem Gusmão Pereira, mas o controle social e a política municipal que regula e controla o fluxo, o valor da tarifa, as condições dos veículos, horários, rotas, quantidades de itinerários e a política de acessibilidade a quem tem necessidades especiais no transporte público, não existe mais porque o ex-prefeito Herzem Gusmão destruiu tudo. | * Herberson Sonkha foi professor de Filosofia e Sociologia de cursinhos da rede privada em Vitória da Conquista. Estudou Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), mas não concluiu. Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores. Atualmente é militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) é dirigentes municipal e estadual da corrente interna Fortalecer.


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