ARTIGO – Conquista, paraíso dos golpistas

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Tombos após tombos, aplicados em sucessivos golpes financeiros, e a economia de Vitória da Conquista parece nunca se reerguer, apesar do comércio forte e da prestação de serviços quase que eficiente. Recentemente apareceram com a “Mandala”. Quem entrou, foi lesado e o sonho de ganhar dinheiro fácil foi pro ralo. Menos um.


Reportagens superficiais na maioria dos meios de comunicação propagam sem conteúdo ou aprofundamento. Tentam enganar a população. O povo que se dane quando o comercial está em jogo.
Tem sido assim. Primeiro, para ser mais contemporâneo, foi a farra do café, que quase resultou na venda dos bens da Coopmac, nos idos dos anos 90. Depois, o espetacular rombo na Credic, que enriqueceu diretores da época e, ao mesmo tempo, transformou empresários bem sucedidos em mortos-vivos, vítimas de infarto e depressão.

Como resultado das investigações, a 17ª Vara da Justiça Federal aceitou em parte pedido do Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) e condenou os ex-gestores da Cooperativa de Crédito Rural Conquista (Credic) por crimes previstos na Lei do Colarinho Branco (Lei nº 7.492/1986).
O juiz federal substituto Cristiano Miranda de Santana condenou quatro dos sete denunciados pelo MPF pelo desvio de 32 milhões de reais, que resultou na falência da quarta maior companhia de crédito do país, com 182 associados na época. Atualizado pelo INPC e corrigido com juros de 1% ao mês, o desfalque equivaleria hoje a quase 200 milhões de reais.

O ex-presidente Derivaldo Novaes de Carvalho e o ex-gerente João Gualberto Silva Oliveira foram condenados por gestão temerária, gestão fraudulenta e manipulação de balancetes. A pena fixada para cada um é de seis anos e seis meses de reclusão em regime semiaberto e pagamento de dias-multa equivalente a cerca de 73 mil e 74 mil reais (em valores atualizados), respectivamente.

Condenados apenas por gestão temerária, o ex-vice-presidente Josué Figueira de Andrade e o ex-secretário do Conselho de Administração Agostinho Alves Sobrinho terão de prestar serviços comunitários, pagar multa (respectivamente de 12 mil e dez mil reais atualizados) e prestação pecuniária de dez mil reais cada um. Ninguém foi preso e o dinheiro, nunca apareceu.

Foi um escândalo. A fim de criar a falsa ideia de ganhos inexistentes e ludibriar os associados sobre as sucessivas perdas da cooperativa, os principais administradores usavam artifícios para maquiar os resultados contábeis.

Para se ter ideia da situação da Credic na época, os dez maiores devedores da cooperativa contraíram cerca de 7 milhões de reais em empréstimos e os 20 maiores devedores, 9,8 milhões de reais, em valores de junho de 1999. Somam-se a esses dados o pagamento de um cheque sem fundos no valor de 500 mil reais em 1997 e um total de 6,6 milhões em liberações de limite de cheque-especial em 1999.

PIRÂMIDES

Mais recentemente, vieram as famosas – e faraônicas – pirâmides financeiras. Muitos aplicadores que apostavam no lucro fácil, para continuar ostentando vida de luxo, ainda aguardam a retomada do que investiram – e não foi pouco, para tentar recomeçar a vida, incluindo reaproximação de amigos e até da própria família.

Só para refrescar a memória, a chamada “febre das pirâmides”, ou como alguns preferem Marketing Multi Nível (MMN), é um esquema multibilionário e fraudulento, um negócio que prometia faturamento alto e rápido, de mais de R$ 10 mil por mês. Só que, de repente, muito não durou até a máscara cair e centenas de aplicadores sumiram como fumaça ao vento, deixando para trás outros tantos lesados, obnubilados pela ganância.

Dinheiro se dissipando, preso por determinação da Justiça. Carros plotados agora “mascarados”, sem as inscrições do MMN e muitas cabeças fervendo e corpos insones. Advogados, empresários, pecuaristas, policiais, músicos, jornalistas, médicos, diaristas.

Poucas foram as classes que não emprestaram alguns dos seus profissionais para servirem como “cobaias” dos faraós dos tempos modernos. Amigos, parentes, pais e muita gente que conheço, foi lesada por um ou mais de um destes esquemas.

MORTE SÚBITA

E, como se tudo isso já estivesse superado, a modalidade de “morte súbita”, no comércio de motocicletas, recebe um golpe da Justiça Federal e deixa órfãos milhares de sonhadores que aplicaram suas economias na esperança de ter a “pedra da sorte” premiada com um veículo zero quilômetro pela concessionária escolhida.

Ainda resta uma esperança de reaver o dinheiro aplicado, mas a cada dia ela se torna mais distante. Para os que não tiveram acesso à íntegra da decisão proferida pela 2ª Vara da Subseção Judiciária de Vitória da Conquista na ação civil pública n. 4644-71.2012.4.01.3307 sobre a condenação a oito empresas por consórcio irregular em Vitória da Conquista/BA.

Mesmo com a proibição dessa prática, desde 2012, as empresas promoviam consórcios de motocicletas por morte súbita, sem autorização do Banco Central, sob a fachada de contratos de compra e venda, ludibriando centenas de pessoas.

Aos que assistem de camarote os espertalhões farrearem com o dinheiro alheio, desfilando em carros conversíveis pelas ruas de Conquista; nos bares da moda postando selfies com baldes de cerveja e garrafas de whisky à frente ou de barco e jet ski nas águas infestadas de piranhas na Prainha de Anagé, um aviso: cuidado, você pode ser a próxima vítima.

Resta saber qual o próximo golpe a ser aplicado na benevolente “Suíça do Sertão”. Que me perdoem pelo inevitável trocadilho, mas no caso de “morte súbita”, foi um golpe “Suíço e doce”. Apesar de difícil, superar é importante, pois o cair é do homem, mas o levantar é de DEUS.

Celino Souza, jornalista 


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