ARTIGO | O papel do líder em tempos de crise (Padre Carlos)*

A política em Vitória da Conquista sofre de apego ao passado. Até mesmo as forças progressistas deixaram de ser portadoras do novo. Mas nunca foi tão urgente imaginar o futuro desejado e como construí-lo.

O novo está na definição ética do uso dos resultados do município, o novo é saber gerir de forma eficiente para construir a justiça, com liberdade e sustentabilidade, especialmente garantindo que os filhos dos mais pobres terão escolas com a mesma qualidade dos filhos dos ricos.   

A desconexão geracional é um fenômeno de quase toda a esquerda, não é só na nossa cidade, mas a situação é mais grave quando não renovamos nossos quadros e os nossos projetos. O político lida com sonhos e utopias, por isto tem que está mais sintonizados com os novos tempos e com estes instrumentos. 

É isto que os seus eleitores esperam das suas lideranças, mas não só os seus eleitores, mas o que a cidade mais precisa. Essa desconexão geral com estranhamento do eleitor, pode se transformar numa mudança de paradigma.

Ao contrário dos números de pesquisas exploratórias e comentários de alguns analistas políticos – todos eles respeitáveis na nossa cidade – não me parece que as eleições de 2020 estejam caminhando a passos largos para uma polarização entre Herzem e um candidato do campo petista.

É muito cedo para se tirar conclusões que afirmem essa direção, as forças políticas ainda estão começando a se movimentar com mais nitidez, a avaliação do governo Pereira não é boa quando comparada com os prefeitos anteriores e o PT. 

Por outro lado, com Guilherme fora da disputa, o PT perde muito do seu carisma, não dando nenhuma demonstração maior de recuperação de seu fôlego eleitoral. Um exemplo disso é a lista dos candidatos  para vereadores, a falta de uma chapa para proporcional com quadros com densidade eleitoral, como  puxador de votos, pode refletir no resultado da majoritária.

O modelo de disputa frontal iniciado em 1992, com a Frente Conquista Popular, brandindo suas espadas de esperança de toda uma geração – não dá mais mostra que possa ser retomado, infelizmente. Precisamos conversar, o diálogo é ainda a maior ferramenta da política e  do campo democrático. Não podemos agir achando que somos Tenório Cavalcanti, pois não temos mais a capa preta, ela foi símbolo de um tempo que não existe mais.

A adesão ao discurso populista de extrema-direita chegou na nossa cidade como uma praga e tem resultado em um grave retrocesso social e político, por isto temos que agir com  cautela e  responsabilidade.

Para isto, é preciso que nossas lideranças entendam que  confiança é uma via de mão dupla. Para funcionar, líder e liderado precisam confiar uns nos outros. Somente a partir disso os resultados serão potencializados. Para construir um projeto coletivo é preciso abrir mão do nosso projeto pessoal. Assim é importante que as lideranças não pensem só no seu agrupamento e nas pessoas que estão a sua volta. 

O partido é maior que minha tendência, se continuar agindo assim, terminarão sozinhos com os seus amigos. Se não houver a tão esperada união dos partidos progressistas, iremos amargar outra derrota.

Espera-se que o campo democrático não repita alguns erros praticados até o presente momento, mantendo-se dividido e menosprezando o avanço do fascismo representado pela direita no nosso município. Não é hora de pensarmos em projetos pessoas, mas também não é a hora de sermos tratados por algumas lideranças como se tivéssemos que acompanha-los a toque de caixa. 

Será que estamos dando o devido valor os companheiros, ou vemos estes como o adversário a ser superado. Gostaria de dizer a algumas lideranças do campo da esquerda no nosso município, que não basta ter ATITUDE de líder, AMBIÇÃO política, se não tiver alguém soprando em meu ouvido: um bom Líder tem que saber tudo sobre o que é ser liderado.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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