ALERTA | ‘É preciso cautela’, alerta médico do Comitê Científico do NE sobre reabertura de comércio em cidades da BA durante pandemia

Profissionais de saúde em Brotas durante período de medidas mais restritivas no bairro — Foto: Bruno Concha / Secom Prefeitura de Salvador

O médico e cientista Miguel Nicolelis (abaixo), que é membro do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, recomendou uma análise cautelosa aos gestores das cidades que querem reabrir o comércio, em meio à pandemia do coronavírus.
Miguel Nicolelis: "O mundo está perplexo com o desmonte da | Geral

O comitê foi formado para auxiliar os governadores da região a tomar decisões no enfrentamento à Covid-19. Na Bahia, o monitoramento é feito em várias cidades, entre elas, Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Ilhéus e Itabuna.

“Nós ainda temos uma posição de cautela, porque os dados ainda estão subindo. Tem boas notícias, mas tem também a preocupação, por causa do crescimento dos casos. Tanto dos casos confirmados quanto dos óbitos nas cidades, que sugerem que a gente tenha um pouco mais de cautela nessa possibilidade de reabrir comércio, principalmente nas cidades do interior, cidades que estamos monitorando e estamos vendo ainda crescimento de casos”, alerta Nicolelis.

A principal preocupação do cientista é que a reabertura do comércio leve mais pessoas para as ruas, diminuindo o isolamento social, que é a principal forma de contenção do contágio.

“A taxa de isolamento social está caindo. Em alguns lugares, nós achamos que o ‘lockdown’ [fechamento total] tem que ser feito imediatamente. Estou muito preocupado com Feira de Santana, porque, se fizesse o isolamento, mantivesse os níveis da semana em que o comércio fechou, uns 10 dias mais ou menos, o isolamento aumentava um pouco e os números do final de junho seriam aceitáveis, seria um número por volta de 1.300 casos. Agora, se abrir de vez, se o isolamento cair total, abrir tudo, esse número triplica. Isso me preocupa demais, e ao comitê todo”, pondera o cientista.

Nicolelis aponta ainda que a queda nos números de ocupação das UTIs refletem diretamente nas cidades onde o fechamento do comércio foi feito de forma mais rigorosa.

“Em Salvador, por exemplo, houve um aumento de leitos disponíveis, então mostra que caiu a ocupação das UTIs, o que é uma notícia positiva. Nós estamos vendo que existe, na capital, um movimento setorizado, com uma abertura planejada cuidadosamente”, avalia o especialista.

Os efeitos inversos também são percebidos em outras localidades da Bahia, onde houve relaxamento na abertura do comércio.

“Feira de Santana e Ilhéus continuam sendo preocupações que nós temos que monitorar, sem dúvida nenhuma. Juazeiro, com a sua conexão com Petrolina, também é uma preocupação. Eu tenho algumas projeções. Juazeiro teve um aumento de 23 casos em 14 dias, um aumento de 191%. Então isso entra na nossa categoria de monitoração mais próxima, porque um aumento nessa magnitude é significativo. Vitória da Conquista tem 108%, Feira de Santana continua o aumento de 185% em 14 dias, medidos até a sexta-feira (29)”, destacou.

O cientista pondera que, para que as medidas de restrição funcionem, é preciso que a população entenda a necessidade do isolamento social.

“Não basta só o gestores estarem preocupados em salvar vidas, como todos estão. Tentar criar essas medidas, estabelecerem por decreto as medidas, se a sociedade não colaborar. Se a sociedade não entender a gravidade do momento que nós estamos passando no Brasil, e obedecer as determinações.

Os gestores têm que ter a colaboração da sociedade. Porque chega em um momento que se tem poucas condições de ação. E, se os números continuam crescendo exponencialmente, o sistema de saúde começa a ficar próximo de uma sobrecarga total. Aí não se tem opção e tem que criar o lockdown. Temos que ter essa comunhão de objetivos entre a sociedade e os gestores”, disse. | G1 Bahia.


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