Cerca de 50 mil produtores de leite na Bahia foram afetados pelas chuvas que castigaram as regiões Sudeste, Sul e o Extremo-Sul, em dezembro. O número é uma estimativa da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), porque os prejuízos ainda não foram colocados na ponta do lápis. A principal dificuldade é para escoar a produção, já que 61 trechos de estradas apresentaram problemas por conta do mau tempo.
Nessa segunda-feira (3), um deslizamento de aterro provocou erosão na travessia urbana de Ituberá, na BA-250, e a região precisará de intervenção urgente. O presidente da Faeb, Humberto Miranda, contou que os pequenos produtores foram os mais prejudicados. Muitos perderam toda a produção, além da casa e de outros bens materiais. Quem conseguiu levar o gado para a parte mais alta do terreno e manteve a produção de leite a salvo encontra um novo obstáculo.
“Ainda é cedo para precisar o número de produtores prejudicados, porque enquanto conversamos, nesse momento, tem produtor jogando leite fora, mas, pelo menos, 50 mil foram afetados. A região atingida pela chuva é responsável por 50% do material produzido na Bahia. Não tivemos muitos casos de perda de animais, mas a produção de leite está sendo perdida porque não tem como ser enviada”, afirmou.
Depois que é armazenado nos tanques, o leite suporta até três dias. Quando esse prazo termina o material estraga. As chuvas começaram a provocar destruição na Bahia na segunda semana de dezembro e se intensificaram nos dias seguintes. Muitos produtores perderam tudo e o governo contabiliza 600 mil pessoas prejudicadas pelo mau tempo.
O período entre o final e o início do ano é o momento em que a procura por leite diminui. Com as férias escolares, as prefeituras demandam menos o produto, que é usado na merenda escolar, e ao mesmo tempo as chuvas aumentam a produção. O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Leite do Estado da Bahia (Sindileite), Rafael Teixeira, contou que por conta desse cenário, os consumidores não vão sentir o impacto nos preços.
“A oferta acima do esperado reduz o preço dos commodities, então, tanto o leite como seus derivados estão mais baratos, mas não sabemos como vai ficar o cenário no futuro. A cadeia de produção de leite é muito grande, não temos como precisar o número de produtores que existem no estado ou nessa região específica, mas essa é a principal região produtora no estado”.
Produtor teve prejuízo estimado de mais de R$ 100 mil
O fazendeiro Firmo Leal, 49 anos, tem uma fazenda localizada na divisa entre Ibicuí e Dário Meira, duas cidades bastante atingidas pelas chuvas. “Como a minha propriedade tem uma topografia muito plana e dois rios que cortam, isso contribuiu para que boa parte ficasse alagada. Sempre que chovia demais, isso acontecia. Porém, antes, em dois dias se resolvia tudo. Dessa vez que foi complicado, pois choveu demais”, relata.
Nessa fazenda, ele possui cerca de 40 vacas produtoras de leite. A estimativa é que o prejuízo não seja menos que R$ 100 mil. “A propriedade ficou praticamente submersa. Estragou as cercas, o rio ficou muito tempo alto, parte da gramínea morreu, teve uma bomba que foi levada pela força do rio”, conta o fazendeiro, que não chegou a perder nenhum animal. “A gente conseguiu levar as vacas para a parte que não alagou, por ser um pouco mais alta”, diz.
Por causa desses problemas, a produção de leite do seu Firmo diminuiu pela metade no mês de dezembro. Ele não sabe dizer, no entanto, se isso pode causar desabastecimento do produto no estado. “Não foram todas as fazendas que foram atingidas como a minha. Nesse período, o preço do leite também caiu. Depois pode ser que aumente. Eu devo levar uns seis meses para recuperar o prejuízo na fazenda”.
Impacto
As águas dos rios baixaram, mas o cenário ainda é de destruição em muitas cidades. Para os produtores existem dois problemas que precisam ser resolvidos de imediato. O primeiro, é a questão de moradia, com a construção ou reconstrução das propriedades.
O segundo, é relacionado à retomada da produção. O setor vai precisar de incentivos e pediu que os bancos facilitem a renegociação de dívidas e ofereçam linhas de crédito, porque o produtor que perdeu tudo não terá capacidade de pagamento nesse momento.
Além da produção de leite, o temporal atingiu a agropecuária de uma maneira geral. As plantações de milho, feijão, mandioca, mamão e melancia, comuns nessa região, ficavam em terreno baixo, próximas aos rios para facilitar a irrigação, e foram destruídas. Outro problema é que muitos trabalhadores que atuam nessas empresas estão sem moradia e, portanto, sem condições de trabalhar.
A diretora executiva da Associação Baiana de Avicultura (ABA), Patrícia Nascimento, contou o caso de uma granja do município de Prado onde 30% dos trabalhadores foram afetados pelas chuvas. “Eles [proprietários da granja] não tiveram perda de animais porque a estrutura fica em uma parte alta do terreno, mas estão nessa situação e com a dificuldade de as estradas estarem bloqueadas”, disse.
A chuva provocou danos em pelo menos 61 trechos de rodovias na Bahia. O levantamento é da Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra) que informou que está fazendo os reparos e monitorando essas regiões.
Operação
Em nota, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri) disse que criou um grupo de trabalho para coletar informações e acompanhar os impactos causados pelas chuvas nos municípios atingidos, 153 até o momento, e para construir um plano de ação para atender as regiões mais afetadas.
“Com autorização do governo do estado, a Seagri já iniciou processo de compra, em caráter de urgência, de cerca de 90 equipamentos que serão entregues a prefeituras municipais e consórcios com vistas a minimizar os impactos causados a produtores rurais, como, por exemplo, abrir estradas para escoar a produção, e também para fazer chegar todo tipo de ajuda necessária a estes municípios”, diz a nota.
O investimento será de R$ 55 milhões e serão adquiridos rolos compactadores, retroescavadeiras, motoniveladoras, caminhões pipa dentre outros. O órgão também está arrecadando doações para os desabrigados e se comprometeu a trabalhar com as instituições financeiras para disponibilizar linhas de crédito com acesso facilitado para os produtores rurais.
“Com relação aos números relacionados às perdas econômicas, ainda não é possível mensurar, pois é muito recente, no entanto, já foi possível identificar que as perdas foram nas culturas de ciclos curtos, no extremo Sul; hortifrutigranjeiro, na região de Jaguaquara; e na cadeia produtiva do leite, pela impossibilidade de levar a produção para os laticínios porque as estradas estão intransitáveis”, diz a nota.
Confira algumas rodovias baianas ainda afetadas ou recentemente liberadas:
Passagem Urbana de Ituberá, na BA-250 – Apresenta grande erosão causada por deslizamento de aterro. A equipe técnica da Seinfra avalia a situação e fará a execução de uma intervenção emergencial na rodovia. O tráfego de veículos na saída de Ituberá em direção à Piraí do Norte está em meia pista.
Acesso ao distrito de Guaibim, na BA-887 – A passagem de veículos de pequeno e grande porte no acesso ao distrito de Guaibim, em Valença, já foi liberada. Na chegada de Guaibim, o tráfego está meia pista até iniciar os serviços de recuperação, que estão previstos para a próxima semana.
BA-542, entre Valença e a BR-101 – O grande volume de água invadiu a pista no KM 10 da rodovia na última semana. A equipe técnica da Secretaria de Infraestrutura no Baixo Sul acompanha a situação e o tráfego de veículos na rodovia encontra-se normal.
Ponte de acesso à Itapitanga – Uma inspeção na ponte de acesso à Itapitanga, na BA-651, foi realizada na quinta-feira (30) após o rompimento do muro de contenção. O equipamento permanecerá interditado por tempo indeterminado. O tráfego de veículos só será retomado após a obra de recuperação estrutural, o qual o projeto será elaborado. Para chegar ao município, o motorista deve utilizar o caminho passando pelos distritos de Itamotinga e Cafundó, na BA-972, ou pela BR-030, na região de Aurelino Leal.
BR-415, de Ilhéus até Itabuna – O fluxo na rodovia foi retomado após a redução do nível de água do Rio Cachoeira.
BR-415, entre Itabuna e Floresta Azul – O fluxo na rodovia foi retomado após a redução do nível de água do Rio Cachoeira.
BA-262, de Itajuípe até Coaraci – O fluxo na rodovia foi retomado após a redução do nível de água do Rio Almada.
Fonte: Seinfra.