AGRO | Com estradas ruins, produtor rural da Bahia gasta 20% a mais com frete


O custo com o frete para o transporte de produtos agrícolas do oeste da Bahia para Salvador e o Porto de Aratu, de onde ocorre a exportação, tem ficado até 20% maiores por conta da precariedade das estradas. A informação é da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), sediada em Barreiras.

Na região, o frete é calculado por produto. A soja, por exemplo, custa R$ 170 por tonelada para ser transportada de Barreiras a Salvador. Com os problemas nas estradas, o valor total do frete sofre o acréscimo, baseado nos trechos da estrada que estão em condições ruins.

De acordo com Luís Stalke, assessor de agronegócios da Aiba, há caminhoneiro que até se nega a ir pegar cargas em locais onde as estradas estão ruins. E por conta disso, os produtores rurais da região, por meio das associações que os representam, estão investindo também na recuperação de estradas, sobretudo vicinais.

“Nos últimos dois anos foram investidos mais de R$ 23 milhões com a pavimentação asfáltica de 73 km de estradas na região de São Desidério”, afirmou Stalke.

Na região oeste da Bahia, as ações de recuperação de estradas são realizadas por meio do Programa Patrulha Mecanizada da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), com recursos do Prodeagro e dos agricultores.

Nesta terça-feira (22), a Pesquisa CNT de Rodovias 2019, realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostrou que esse problema é um dos mais graves com relação aos custos para os produtores, os quais são impactados pelos custos operacionais dos veículos, devido às condições das rodovias.

O acréscimo médio estimado pela pesquisa da CNT no país é de 28,5%. Em rodovias com pavimento em péssimo estado de conservação, esse acréscimo chega a ser de 91,5%. Pavimentos deficientes reduzem a segurança viária e aumentam o custo de manutenção dos veículos, além do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios.

Entre as piores do país

Outra situação mostrada na pesquisa é que a Bahia possui dois trechos de rodovias (estaduais e federais) entre as dez piores do Brasil.

Esses dois trechos estão no oeste baiano, uma das principais áreas de produção agrícola do país, com destaque para soja, milho e algodão. Um deles, velho conhecido da Pesquisa CNT de Rodovias, fica entre Natividade (TO) e Barreiras (BA).

Essas duas cidades são ligadas por meio da BA-060, BR-242 (na Bahia), TO-040 e TO-280. O outro trecho, na mesma região, é entre Ibotirama (BA) e Curvelo (MG), e que passa pelas BAs 030 e 160, BR-122 (Bahia e Minas) e BR-135 e MG-122.

Saindo de Ibotirama para chegar até a BR-122 são 140 km de buracos pela BA-160. A pista é conhecida como “rodovia da romaria”, pois muitos romeiros passam por ela na época dos festejos de Bom Jesus da Lapa, uma das maiores festas religiosas do país.

O empresário Cardoso Barreto, de 40 anos, é dono de uma oficina à beira da rodovia e trabalha também com guincho. “Mas quase não estou querendo fazer mais serviço de guincho, a estrada está muito ruim para ir buscar carro quebrado”, disse.

“Há uns dez anos, a estrada estava com bem menos buracos, mas foi se deteriorando aos poucos e hoje quase não se vê mais asfalto, é só chão de terra. Um trecho que antes fazia em três horas hoje a gente passa mais de quatro horas rodando”, afirmou.

Gastos com manutenção

A rodovia é muito utilizada também por vanzeiros que fazem o trajeto entre as cidades de Ibotirama e Bom Jesus da Lapa. Um deles, Aldo Santos Santana de Oliveira, 31 anos.

“Estou nesse ramo de van tem um ano, mas já quero sair. Vim porque estavam sem emprego, aproveitei uma grana que tinha e comprei uma van pra não ficar parado, mas essa estrada não está em condições de rodagem. Gasto, por mês, de R$ 200 a R$ 300 com manutenção, senão o carro se acaba”, contou.

Situação parecida ocorre entre Barreiras e Natividade. O trecho de 360 km que separa essas duas cidades é bem conhecido pelo empresário Antônio Batista, de 48 anos, dono de um restaurante e lanchonete no povoado de Placas, pertencente a Barreiras.

“Fizeram uma operação tapa-buraco recentemente, mas ainda tem um trecho de 8 km, daqui de Placas até a divisa com Tocantins, que está sem asfalto e tem muito buraco. E já chegando em Natividade está bem ruim também”, afirmou.

Além de problemas para trafegar, os cerca de 200 moradores do povoado de Placas, onde se planta mais soja e algodão, convivem há 45 dias com a falta de água porque a bomba do poço que abastece o povoado e pertence a uma associação local de moradores foi desligada por falta de pagamento da energia elétrica.

O custo da energia é de R$ 15 mil. Sem água do poço, muitos moradores estão pagando caminhões-pipa que se deslocam de Luís Eduardo Magalhães para abastecer estabelecimentos particulares, e pagam R$ 450 por isso. No restaurante de Antônio Batista, os 14 mil litros de água que o caminhão-pipa leva dá para somente 5 dias.

“E o pessoal do caminhão-pipa vem fazendo cara feia porque a estrada daqui pra Luís Eduardo ficou um bocado de coisa sem fazer também, não está tão boa assim pra rodar não”, disse Batista.

Metas

A previsão para este ano é a recuperação de 500 km de estradas. Também foram executadas este ano a recuperação ou manutenção de 120 km da estrada entre Baianópolis e São Desidério; 45 km da Linha Paraíso, em São Desidério; 38 km na estrada que liga a BA-463 à Linha dos Pivôs; 35 km da estrada Rio de Pedras, em Barreiras; e 64 km da Estrada João Barata, em Barreiras.

O coordenador da Patrulha Mecanizada, David Tavares, informou que o programa avançou ainda mais este ano com a aquisição de novos equipamentos, dobrando o número de máquinas do programa, dobrando a capacidade de produção.

“Além de manter duas frentes de trabalho executando projetos de terraplanagem e pavimentação, ainda conseguimos manter uma parte da estrutura atendendo a manutenção de aproximadamente 400 km estradas até metade do segundo semestre”, reforça.

Criado e executado desde 2013, o projeto da Patrulha Mecanizada já recuperou cerca de 2,5 mil quilômetros de estradas localizadas em importantes áreas produtivas agrícolas como a Estrada de Placas (Barreiras), Estrada Garganta/Panambi/Pedra da Baliza (Formosa do Rio Preto), Rodovia da Soja e Linha dos Pivôs (São Desidério), Estrada Alto Horizonte (Luís Eduardo Magalhães), Linha Branca (Correntina) e importantes trechos entre Cascudeiro e Campo Grande (Baianópolis).

Durante as intervenções de recuperação de estradas, o programa também realiza um sistema de “barraginhas” ao longo das estradas para impedir que a água das chuvas escorra por elas, reduzindo o assoreamento por areia e cascalho dos rios da região.

Os produtores rurais investiram, desde a criação do programa, aproximadamente R$ 30 milhões para a aquisição de máquinas, manutenção e custeio das operações do programa, com recursos dos agricultores baianos, por meio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Prodeagro, Fundeagro, parceria com os municípios e apoio dos próprios produtores.

Governo da Bahia já investiu R$ 1,5 milhão com pavimentação


Nos últimos cinco anos, o governo da Bahia já investiu cerca de R$ 1,5 bilhão na pavimentação e recuperação das rodovias estaduais, conforme informações da Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), divulgadas nesta terça-feira.

Já foram entregues 5,5 mil quilômetros totalmente recuperados e, além disso, de acordo com a secretaria, estão em andamento serviços em mais de 470 quilômetros.

Outros 745 quilômetros tem a previsão de terem as obras iniciadas ainda este ano. De acordo com a pesquisa realizada pela CNT, 79,7% do pavimento da Bahia foi apontado como ótimo, bom e regular.

Dos  8.995 mil quilômetros de estradas baianas avaliadas pela pesquisa CNT 2019, 2.665 são de responsabilidade do estado, o que corresponde a 29,6% dos trechos analisados.

Foram considerados além do pavimento, sinalização e geometria da via. Ainda conforme a pesquisa, o estado geral das rodovias baianas estaduais entre ótimo, bom e regular, está em 58,7%. Já no item sinalização, o somatório chegou aos 62,2% e em geometria da via está com 35,8%.

Apenas no último ano já foram realizadas obras em mais de 1600 quilômetros com o Programa de Recuperação e Manutenção das Rodovias Baianas (PREMAR II). | De Vitória da Conquista (BA) @mariobtagro


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