AGRO | Aplicativo alertará sobre doenças em lavouras de soja e algodão da Bahia

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgou nesta terça-feira (13) a realização de uma parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) para o desenvolvimento de um aplicativo e um sistema de informações geográficas na web (webgis) sobre alertas de doenças em lavouras.

A ideia, informa a Embrapa, é fazer com que os agricultores tenham informação para decidir quando e quanto investir em medidas para combater o problema, como a aplicação de defensivos agrícolas. A iniciativa também contempla o acompanhamento do balanço hídrico da região. As informações estão no Blog do Canal Rural.
Recém-aprovado pelo Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), o projeto tem duração prevista de dois anos, é liderado pela Embrapa Territorial (SP) e será direcionado inicialmente para a região oeste da Bahia para ajudar a combater duas doenças que afetam as principais culturas locais: a ferrugem da soja e a mancha da ramulária do algodão.
A região oeste da Bahia abrange 32 municípios, entre eles Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. A região, que faz parte do Matopiba, composta por áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, tem a segunda maior produção de algodão do Brasil e fica em sexto lugar na colheita de soja.
Integram o projeto outras duas iniciativas da Empresa e parceiros no combate a essas duas ameaças: o Consórcio Antiferrugem, coordenado pela Embrapa Soja (PR), e a Rede de Pesquisa de Ramulária, que tem à frente a Embrapa Algodão (PB). Conta ainda com a parceria da Embrapa Informática Agropecuária (SP) e da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE).
Informações combinadas
Os pesquisadores vão utilizar informações das estações meteorológicas dos agricultores, combinadas com imagens de satélite e dados de ocorrência das doenças. A partir daí, será calculado e divulgado pelo aplicativo e pelo site informações sobre proliferação dos agentes causadores. Estão previstas atualizações diárias.
O pesquisador da Embrapa Territorial Julio Cesar Bogiani explica que três fatores são necessários para a proliferação de doenças nas lavouras: presença do agente causador, dos hospedeiros (as plantas) e condições climáticas favoráveis. “O ambiente é altamente determinante para a favorabilidade da doença”, explica.
No caso da soja, o Consórcio Antiferrugem já publica os números e locais de ocorrência e dispõe de série histórica. Esses dados serão combinados aos meteorológicos para gerar índices de favorabilidade a serem utilizados pelos agricultores.
Algodão cultivado na fazenda Sete Povos, em Roda Velha, distrito de São Desidério, oeste da Bahia (Mário Bittencour)

Algodão cultivado na fazenda Sete Povos, em Roda Velha, distrito de São Desidério, oeste da Bahia (Mário Bittencourt)
“A interligação com a rede de estações será uma ferramenta a mais para auxiliar o produtor nas tomadas de decisões no manejo da doença porque interliga o triângulo de relações hospedeiro x patógeno x ambiente”, disse a pesquisadora da Embrapa Soja Cláudia Vieira Godoy, da coordenação do Consórcio.
“Com os sistemas interligados, pode ser feita a validação de modelos de previsão, buscando desenhar mapas de favorabilidade para a região, a partir de dados locais”, completou.
Já a rede de pesquisa que estuda a ramulária é recente. De acordo com o coordenador da rede, o pesquisador da Embrapa Algodão Alderi Emídio de Araújo, a abrangência dos dados levantados permitirá determinar que condições de clima favorecem ao aumento da intensidade da doença.
Ele informou que os ensaios com defensivos e monitoramento de possíveis mutações no fungo causador da ramulária acontecem em área que representa 90% da produção brasileira da fibra, para a qual são registradas informações sobre a intensidade da doença e as condições climáticas.
“Com esses dados, é possível estabelecer correlações entre o ambiente e o desenvolvimento da ramulária no campo”, afirmou.
Bogiani diz que, atualmente, os produtores têm ficado dependentes dos calendários definidos pelos fabricantes de defensivos para decidir quando aplicar produtos contra as doenças.
“Mas, muitas vezes, ele precisaria ter feito as aplicações um pouco antes ou depois, dependendo das condições climáticas”, ressalta.
Ao fim do projeto, a equipe espera entregar a eles uma ferramenta para que tomem decisões com base em informações qualificadas sobre quão favorável está o ambiente, na região dele, para a proliferação da ferrugem ou da ramulária.
O presidente da Abapa Júlio Cézar Busato, em meio a uma plantação de algodão em Roda Velha, distrito de São Desidério, oeste da Bahia (Mário Bittencourt)

O presidente da Abapa Júlio Cézar Busato, em meio a uma plantação de algodão em Roda Velha, distrito de São Desidério, oeste da Bahia (Mário Bittencourt)
“Com essas informações, vamos criar um sistema de alerta para que os produtores possam fazer o controle do fungo com maior assertividade, aumentando a produtividade e reduzindo o custo das lavouras de algodão”, disse o presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Cézar Busato, que tem grandes expectativas no uso da ferramenta para o combate à mancha da ramulária.
“O alerta será emitido e os produtores podem trabalhar estratégias de prevenção e combate com a aplicação de fungicida. Caso as condições não sejam favoráveis para o desenvolvimento do fungo e, consequentemente, da doença, os defensivos agrícolas não serão aplicados, gerando, assim, economia para o produtor”, comentou.
Redes de estações meteorológicas
Passo fundamental para o sucesso do projeto será interligar em rede as estações meteorológicas dos agricultores que aderirem ao projeto. Isoladas como estão hoje, não são capazes de compartilhar as informações necessárias para a equipe.
Os pesquisadores farão visitas-técnicas à região, inicialmente para avaliar as estações e, posteriormente, para validar no campo as informações geradas a partir dos dados processados pelos modelos.
O pesquisador Paulo Barroso, da Embrapa Territorial, disse que “as estações isoladas trazem informações para um agricultor”, e que “em rede, atendem a toda uma região, permitindo melhorar as previsões de tempo, clima e gerar os demais produtos desse projeto com maior precisão”.
O projeto também prevê o uso dos dados das estações meteorológicas e imagens de satélite para medir a evapotranspiração nas áreas de plantio, por meio do SAFER (Simple Algorthm for Evapotranspiration Retrieving).
Algoritmo desenvolvido pela Embrapa Territorial, ele permite calcular a perda de água do solo pela evaporação e das plantas pela transpiração. Assim, será possível acompanhar a evolução do balanço hídrico na região.
Serão criados modelos automáticos para que as informações também fiquem disponíveis aos agricultores no aplicativo.
De acordo com a pesquisadora Janice Leivas, o uso do método para monitorar de perto uma área relativamente pequena como o oeste da Bahia é um diferencial do projeto. Normalmente, esse tipo de iniciativa envolve escalas muito maiores, até globais.
Sobre as doenças
No Brasil, a ferrugem asiática é a principal ameaça às lavouras de soja. Se não for bem manejada, a doença pode reduzir em até 90% a produtividade do grão.
Desde 2011, os prejuízos acumulados com o problema no Brasil chegam a 10 bilhões de dólares, de acordo com as estimativas do Consórcio Antiferrugem. Na safra 2013/2014, o custo do controle ficou na casa dos 2,2 bilhões de dólares.

Lavoura de soja no oeste da Bahia (Divulgação/Aiba)
O Consórcio Antiferrugem foi criado em 2004 e integra uma estratégia de transferência de tecnologias e uma rede de pesquisadores para promover ensaios cooperativos para testes de fungicidas.
Conta com aproximadamente 100 laboratórios cadastrados em todo o Brasil e cerca de 60 pesquisadores. Mantém um site na internet com dados de ocorrência das doenças, além de informações de pesquisa e orientações técnicas.
Já a Rede de Pesquisa da Ramulária foi criada em 2017, durante o 11º Congresso Brasileiro do Algodão, e reúne empresas multinacionais e instituições de pesquisa.
A equipe tem atuado na uniformização de métodos de avaliação de fungicidas e em ensaios com diferentes tipos de produto, bem como na investigação de possíveis mutações do fungo causador da doença que possam gerar resistência ao controle químico.
Considerada, hoje, a principal doença do algodoeiro no Brasil, a mancha da ramulária pode gerar quedas de produtividade de até 75% nas cultivares mais suscetíveis. A dispersão do agente causador ocorre facilmente pelo vento ou pelas máquinas que transitam nas lavouras.

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